A adolescência é dada a choques. As meninas, as futeboladas, os primeiros copos, as primeiras viagens. As primeiras músicas. Fui só eu que guardei a primeira ida a uma loja de discos com dinheiro no bolso? Ugly Kid Joe, America’s Least Wanted.
Segui para o rock. Vieram os Metallica e os Guns n’Roses, vieram os Pantera e os Red Hot Chilli Peppers. O segundo disco que comprei? Rage Against the Machine. Dos nossos, rapidamente encontrei o Sérgio Godinho e me juntei aos groupies dos Da Weasel.
Lembro-me de comprar o From The Cradle, Eric Clapton. Na altura, “o guitarrista do Unplugged”. Lembro-me de ouvir uma conversa diferente. Foi um choque. E todos sabemos que, na adolescência, os choques marcam.
“Blues Before Sunrise”, podia vir com legenda: blues, eléctrico. Gostei. Depois entra “Third Degree”. Outra legenda: bluesman, sofre. “Reconsider Baby” não é brilhante, mas logo a seguir está a “Hoochie Coochie Man”. Provavelmente o maior dos standards de Blues a abrir a porta para o mundo dos blues. Por lá, nem falta a harmónica e banjo em “How long Blues”, nem o piano em “Sinners Prayer”.
Bem vivido, em 1994, Eric Clapton já carregava a vida de um legítimo bluesman. Estrela na swinging London – God diziam as paredes – recluso no seu mundo e, arrisco, o músico que mais vezes entrou em estúdio para gravar com os Beatles. Por lá, deixou o solo em “While my Guitar Gently Weeps”, de lá levou a namorada ao George Harrison. Para assegurar, nem faltava o disco a provar que sobrevivia a tudo. Da morte do filho, tinha feito o single.
Durante os primeiros anos, entre trips e desvarios, inventou os Cream e o riff de “Sunshine of your Love”. Quase perdeu para os anos oitenta, mas entrou nos noventa a vender 20 milhões de discos agarrado a uma guitarra acústica. Em From The Cradle, recupera a electricidade e, num dos melhores momentos da sua carreira, oferece a sua primeira grande lição de Blues.