Canção do dia

“Chemistry” – Brian Eno / John Hassell

Esta semana, sugerimos um desafio: uma semana sem voz humana, voz que nos assalta todos os dias de todos os lados, no café, no trabalho, em casa, ao telefone, na televisão, até na nossa cabeça e memória. Partimos em direção a uma aventura sonora que exclui momentaneamente o vibrar das cordas vocais, substituindo-as pelo ressoar das cordas, tambores, sintetizadores e batidas.

Começamos numa das grandes capitais do mundo da música instrumental, o nome Brian Eno, que encontra em Jon Hassell, virtuoso e sensível trompetista determinado a transformar o seu instrumento em mil e uma coisas diferentes, um aliado perfeito para criar este “Chemistry”, retirado do fantasmagórico “Fourth World, Vol.1: Possible Musics”. Aqui, o conceito sonhado por Hassell – aquele de casar o primitivo com o moderno para criar um novo mundo de possibilidades musicais – estende-se diante dos nossos ouvidos com uma clareza límpida. Encostado à seção rítmica pachorrenta, a trompete de Hassell é moldada como um pedaço de plasticina até soar a um suspiro distante que nos chega de outro planeta, convidando-nos a nele entrar mesmo sem bem o compreender. “Chemistry” oferece-nos um dilema aos ouvidos que aceitamos, mesmo sem o saber explicar, como toda a boa música que estica o que julgamos saber acerca dela.