Capicua apresentou no Tivoli um concerto onde misturou novos temas e clássicos, criando um ambiente de celebração e conscientização, com uma mensagem de resistência e liberdade.
Na noite de 20 de março o Teatro Tivoli encheu-se para receber Capicua, apresentando o seu mais recente disco, Um Gelado Antes do Fim do Mundo. Para alguém que nunca se interessou particularmente por hip-hop, como eu, Capicua é uma das artistas que mais gosto de ouvir, especialmente ao vivo. As minhas expectativas estavam, por isso, altas. No palco, letras em néon formavam o título do álbum, que à partida parece apocalíptico, mas que, na verdade, tem também esperança.
A artista trouxe ao palco não só as novas canções, mas também clássicos que o público cantou a plenos pulmões – “Medo do Medo”, “Sereia” e, claro, “Madrepérola”, um hino incontornável. No entanto, as grandes estrelas da noite foram os novos temas de Um Gelado Antes do Fim do Mundo, descrito por Capicua como “botas sujas na lama da liberdade” – um olhar atento e crítico sobre o mundo, mas sem cair no catastrofismo.
A interpretação de “Estrela da Tarde”, um dos meus temas favoritos de Carlos do Carmo, escrito por Ary dos Santos e com música de Fernando Tordo, foi um dos momentos mais marcantes. Capicua confidenciou que sempre achou que a canção poderia ser adaptada ao rap e quis experimentar. Pelo que ouvimos, fez bem.
Gisela João, convidada para o concerto e para o disco, e amiga da artista, foi outro dos grandes destaques da noite. Emocionada com a celebração que a amiga estava a viver, juntou-se a Capicua para cantar “Danúbio” e “Que Força é Essa”, que já se tornou um hino ao feminismo e fez levantar os punhos na plateia (pelo menos o meu). A cumplicidade entre ambas e a força das palavras tornaram este dueto um momento muito especial.
“Madrepérola”, a última canção antes do encore, foi uma verdadeira festa. As cadeiras do Tivoli, que inicialmente pareciam incomodar o público, tornaram-se irrelevantes: ninguém quis ficar sentado. Mas a verdadeira explosão aconteceu no encore.
Os aplausos e o bater de pés no soalho do Tivoli quase causaram um pequeno terramoto, e quando Capicua regressou ao palco, fê-lo munida de um megafone, pronta para agitar tudo com “Brava”. A energia foi tal que os graus na escala de Richter quase rebentaram a escala. O público, de punho em riste, gritava palavras que provavelmente assustaram alguns homens cis privilegiados na plateia. O entusiasmo era tão grande que, por instantes, parecia que a multidão poderia sair dali diretamente para a Avenida da Liberdade, com cartazes e archotes, pronta para reivindicar direitos.
Talvez esse seja o maior poder da artista: fazer de um concerto um momento de tomada de consciência sobre os problemas que continuam a ser feridas abertas na sociedade. De certeza que a Teenage Ana ia ficar muito orgulhosa da Capicua.
Alinhamento:
Chiaroscuro
Ao Acaso
Flamingo
Souvenir
Medo Do Medo
Natureza Morta Último Mergulho
Estrela Da Tarde
Danúbio (C/ Gisela)
Que Força É Essa Amiga (C/ Gisela)
Apartamento
Meia Romã
Madrepérola
Encore:
Brava
Making Teenage Ana Proud
Fotografias de Cecile Lopes


































