O texano Townes Van Zandt continua a ser mais uma figura de culto do que a ter o reconhecimento que as suas capacidades de composição fizeram por merecer.
Nascido em 1944, numa família de posses de Fort Worth, desde cedo foi influenciado pelos blues e, sobretudo, pela música country. Possuidor de uma personalidade introspectiva e algo depressiva, acabou por, no final da adolescência, ser submetido a tratamento por electrochoques. Isto teve consequências em toda a sua vida. Não só não resolveu o problema de depressão crónica como teve sérias implicações na sua memória. Chegou a estudar Direito, mas a entrada no alcoolismo e o chamamento da música levaram-no a abandonar a universidade. Tentou ainda entrar na Força Aérea, mas o médico chumbou-o, qualificando-o como um “maníaco-depressivo agudo”. Só havia um caminho, a música.
Começou por tocar nos bares de Houston por 10 dólares, inicialmente covers de Hank Williams e Bob Bylan. A meio dos anos 60, deixa o Texas e vai para Nashville, a Meca da música country, onde continua a actuar e começa a compor os seus próprios temas. E é pela sua faceta de compositor que Van Zandt se torna conhecido, chegando mesmo a ser convidado para tocar e escrever para Dylan. Infelizmente, os anos 70 são anos de vício, álcool e heroína, algo que o acompanharia para o resto da vida. Enquanto lançava discos sem grande sucesso, os seus temas eram gravados por inúmeros artistas de maior renome. Townes Van Zandt passaria anos e anos seguidos a tocar em bares manhosos, muitas vezes para 50 pessoas ou menos, enquanto se afundava nos vícios e na depressão, algo que foi muitas vezes tema dos seus trabalhos.
Este “Tecumseh Valley”, que trazemos como canção do dia, conheceu várias versões, sendo esta a editada no duplo vinil Live at the Old Quarter, Houston, Texas, uma magnífica amostra de muitas das noites deste cowboy solitário. Por cima da sua fiel guitarra acústica, Van Zandt conta a história de Caroline, uma linda rapariga com pouca sorte na vida, que vem para a cidade à procura de sustento para o seu pai doente, acabando por cair na prostituição e por morrer pouco depois. Está aqui uma das grandes capacidades deste artista, a insuperável capacidade para ilustrar o lado errado da vida e identificar-se totalmente com os seus protagonistas.
Townes Van Zandt morreu no primeiro dia de 1997, exactamente 44 anos depois do seu grande ídolo Hank Williams. Desde então, o seu culto tem crescido, e o reportório que compôs tem servido de material para inúmeros artistas: Rolling Stones, Willie Nelson, Laura Marling, Robert Plant, Bob Dylan ou Devendra Banhart, entre dezenas de outros.