Som e visão. Haverá melhor forma de descrever David Bowie? Acho que não. O seu dom não ficou marcado apenas na sua música. Durante praticamente todo o seu percurso, Bowie vestiu a pele de um camaleão e criou diversas imagens de si próprio, reinventando-se sem mais não. A prova de que a música às vezes precisa de uma imagem, por mais simples que ela seja, para nos elucidar um sentido que, na maior parte das vezes, muito pouco sentido tem.
Seis dias após o seu aniversário, o já trintão David edita Low, primeiro disco da Trilogia de Berlim e do músico inglês na capital alemã. Com o single “Sound and Vision”, quarta faixa do disco, Bowie remete-nos para a depressão dos poucos pensamentos que a solidão leva a um ser humano. “I will sit right down/Waiting for the gift of sound and vision.” Quando oiço esta música é isto mesmo que eu penso. Um Bowie sentado ao piano, suportado apenas pela esperança simples de sair dali com mais umas notas na sua cabeça. Janeiro vai ser um mês assim. Sentado, aqui no meu quarto de paredes brancas (desculpa, David!), repouso eu com a tua imagem sentado ao piano. Com toda a tua formosura, a fazer os anjinhos dançar.