Como é que um inglês branco com carreira no rock n’ roll acaba no Soul Train, mítico programa televisivo norte-americano que teve um impacto profundo na música negra – e se dedicou a apresentá-la, ao longo de 35 anos, em todas as suas vertentes? É fácil: sendo David Bowie. Em 1975, Ziggy Stardust foi reencaminhado para o planeta distante onde nasceu e deu lugar a uma figura supostamente amorfa, plastificada, de sangue europeu mas coração no funk e nos ritmos afro-americanos, uma anti-personalidade que disparava na direcção das estrelas pop, criticando-lhes a arrogância, a prepotência, o mundo em seu redor. Tudo de forma irónica, claro, ou não fosse essa figura produto do mesmo homem que, três anos antes, havia vestido o fato de Ziggy e marcado para sempre a cultura pop. A ironia de “Fame”, um excelente número pré-disco antes deste género arrasar o mainstream, encontra-se de imediato num dos seus co-autores, nada mais nada menos que John Lennon. E depois no seu primeiro verso: Fame makes a man take things over…, que não passa de pequeno pedaço autobiográfico, visto que esta pausa entre personas se deveu, essencialmente, à fama demasiadamente exagerada do alienígena criado por Bowie. Alicerçada num lick de guitarra delicioso e nos vocais de Bowie, “Fame” ainda hoje resiste ao teste do tempo, não apenas como crítica ao estrelato mas também como motor de propulsão para o hedonismo que, regra geral, se vive numa pista de dança. E ainda bem.
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O Capote Fest está aí à porta. Apressem-se, com vagar!
Entre 10 e 12 de maio, Évora receberá a oitava edição do Capote Fest, um festival que insiste em promover novos e futuros valores da música portuguesa.