Não procuro a sugestão subjacente a argumentos ad hominem, não os procuro tão-pouco, meramente me resolvo pela literalidade e começo pelo início, pois largas sejam dadas à evidência, pela citação de Jon Savage, em que «harsh urban scrapings / controlled white noise / massively accented drumming» é descrição bastante do post-punk ainda por definir que surge na contemporaneidade experimentalista de Pere Ubu. No âmbito da declaração, a relação do dito, e enfim mais tarde escrito, com a banda foi mediada através da década de 70, consiste a mediação no equilíbrio entre o que se lê do comentário e o que se ouve da banda: são as inflexões do som que se redescobrem nas tónicas da frase, um vice-versa plausível, é a descrição a acamar na corrosão das melodias e é a rawness da celebração em moldagem às palavras de Savage, que versa-vice se aplique. É de Dub Housing a textura abrasiva e efervescente, é «Navvy» que o abre esquizofrénico, quem, o disco ou o vocalista?, são talvez ambos; Talking Heads intrinsecamente impetuosos, irreverência de The Fall; é de elevada rotação a extática atmosfera que se logra da emancipação das cordas, desordeiras, sujas, sibilantes, é o som «reverbado» em hipérbole, grita Thomas «I have desire / “Freedom!”» ou a exaltação é que o grita a ele, que importa, é isto a imposição de perspectivas alienadas no post-punk, condensadas em 2 minutos e quarenta; é insano enjoyment, que mais chegue, porquanto é princípio de garages gigs e os relembra oferecidos ao desvario de primeiras filas crepitantes, palmas das mãos suadas estalando no palco, semblantes vidrados no pasmo.
Canção do Dia: Pere Ubu – Navvy

Diogo Montenegro
Diogo de nome, Montenegro como apelido, intencionalmente confundido por «pontonegro» ou «montepreto» de forma recorrente, teve como maior arrependimento a sua inscrição no IST em 2013; assim, como recompensa, um miminho egoísta, gesticulou um manguito para o prezado instituto, e como maneira de viver engoliu cursos de revisão literária à boca rota e escreveu críticas e reportagens com maior parcimónia no ano lectivo transacto. É inferível portanto, que se passe a vulgaridade, que é um «ser de muitas contradições»: além do ódio a clichés, candidatou-se neste ano escolar a Artes e Humanidades na FLUL e dá explicações de matemática. (Curioso.) É ainda apologista do acordo ortográfico de 1945. Que o ecletismo não se gaste tão cedo. Nem a boa música.