“Entre Nova Iorque e a Sé de Braga”. Era assim que António Variações gostava de definir sua música. No seu processo criativo, bem como na sua vida, António Ribeiro – nome de baptismo – tentou incessantemente coligar a tradição oral, musical e poética do seu país de origem com a cena musical vibrante que vinha do outro lado do Atlântico.
Na música de Variações, o Fado encontra os clubes de dança e Amália Rodrigues e Fernando Pessoa passeiam-se pela caótica Manhattan. O catalisador deste hibridismo tão particular é o igualmente peculiar António Variações – devoto discípulo de Amália Rodrigues.
Nesta “Canção de Engate”, que aparece no segundo disco do músico – Dar e Receber –, António Variações atinge um ponto de equilíbrio irrepreensível entre o tradicional e o vanguardista. “Canção de Engate” cria a sua base musical com instrumentos eléctricos, completando a música com um poema de uma melancolia latente, tão característica ao Fado.
Num Portugal em que o sexo se mantinha tabu, era impensável uma letra tão promíscua como “Vem que o amor/Não é o tempo/ Nem é o tempo que o faz/ Vem que o amor/ É o momento em que eu me dou/ Em que te dás”, um hino ao amor puramente sexual.
E, no fim do último verso, uma das linhas mais tristes alguma vez cantada na língua de D. Diniz é entoada por um homem que foi maior que a vida: “E eu sou melhor que nada”.
Canção do Dia: Canção de Engate – António Variações
Previous Article