As boas letras não são aquelas que nos dão as respostas já mastigadas mas sim as que nos inquietam com as perguntas que nos despertam. Em “Junkhead” dos Alice in Chains, Layne Staley canta: “Money, status, nothing to me”. Será mesmo possível a alguém renegar totalmente a procura de um determinado estatuto social, aqui entendido enquanto reconhecimento e valorização de quem nós somos pelos nossos pares? Desprezar o reconhecimento da maioria, parece-me pacífico: conheço muita gente que manda às urtigas os valores dominantes do materialismo e da respeitabilidade. Mas mesmo essa minoria contra-cultura não estará prisioneira do reconhecimento dos seus pares, reconhecimento esse sempre definido por contraposição aos valores dominantes? Não terá sido precisamente essa pressão social um dos motivos pelos quais Kurt Cobain – acusado pelos seus pares de se ter vendido ao mainstream com o seu estrondoso sucesso comercial – apertou o gatilho da caçadeira? Os Smiths resumem bem a questão em jogo em “How Soon is Now”: “I am human and I need to be loved just like everybody else does.” Quem não precisa afinal?
Canção do Dia: Alice In Chains – Junkhead

Ricardo Romano
"Um bom disco justifica sempre os meios”- defendeu-se Ricardo Romano, ao ser acusado de ter vendido o rim esquerdo da sua tia entrevada para comprar uma edição rara do Led Zeppelin II - o melhor disco de sempre. O juiz não se convenceu, mandando-o para uma prisão com condições desumanas, onde uma vez foi obrigado a ouvir do princípio ao fim um disco dos Creed. Actualmente em liberdade, cumpre pena de trabalho a favor da comunidade no site Altamont mas a proximidade com boas colecções de discos não augura nada de bom.
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