Ter num único disco todas as canções de “A Weekend in the City” que ficaram espalhadas é um miminho.
Nada soa tanto a nostalgia do início dos 2000 como voltar a ouvir Bloc Party. E a banda, que tem atualmente apenas dois dos membros da fundação inicial, sabe bem que os seus melhores trabalhos ficaram lá atrás, até ao terceiro disco (Silent Alarm (2005, celebra este ano 20 anos), A Weekend in the City (2007), Intimacy (2008)).
Cavalgando este pensamento, o grupo lançou muito recentemente as músicas que ficaram de fora do segundo disco, como um álbum de lados B. E este é melhor do que qualquer disco recente de Bloc Party.
A maior parte das músicas já circulava há muitos anos pelo Youtube, e esta fã – que se recusa a deixá-los ir porque ouvi-los traz imensas memórias (e, como dizíamos entre Altamonts, Bloc Party dessa altura é maior do que a vida) – já conhecia de cor e salteado praticamente todas. Mas é sempre simpático tê-las agrupadas num único disco, uma vez que foram sendo editadas em versões de diferentes meios ou países (a versão japonesa tem duas destas canções, a canadiana outras duas – já a primeira versão de A Weekend in the City que foi editada nem tem a faixa “Flux”).
São 12 faixas cheias de qualidade e que trazem, de facto, uma grande nostalgia. A guitarra poderosa, a bateria do antigamente, o baixo a marcar o compasso, a voz sempre característica: é um miminho para os ouvidos, começando logo a abrir com “Cavaliers and Roundheads”. “Secrets” é uma canção típica, que até remete mais para Silent Alarm, fazendo lembrar um pouco “Helicopter”.
Vamos seguindo esta linha até chegarmos às duas melhores canções deste disco, melhores até do que algumas das faixas que foram incluídas no álbum original: “Vision of Heaven” e “We Were Lovers”.
A primeira é uma canção intensamente triste, delicada, que nos deixa em suspenso, pela guitarra de Russel Lissack e pelas palavras cantadas por Kele Okereke (os membros que se mantêm desde a fundação). E quando Kele canta “These days I just want to be alone”, pensamos, quem nunca, sobretudo naquele início de idade adulta em que já nos sentimos tão crescidos mas ainda temos todas as inseguranças e sentimentos fortes de um adolescente?
Já “We Were Lovers” vem com a energia pujante da banda, uma canção de raiva, de desgosto, como o próprio nome indica. E também, quando Kele canta “And now our love has been forgotten like it was never there, we’re just sitting here like strangers”, novamente não conseguimos deixar de nos lembrarmos das vezes em que, também aqui, quem nunca.
O disco continua com uma série de canções de qualidade, desde “Rhododendrons”, passando por “England” e finalizando com “Version 2.0”. É um disco que apetece voltar a ouvir e que ainda nos dias de hoje soa bem, sobretudo aos amantes do velho indie, que está a cair em desuso. Para esta Altamont em particular, este é um disco de enorme qualidade, com muitas recordações lá metidas. Mesmo não tendo nenhuma canção nova soube muito bem voltar a essa nostalgia musical.