Quando Beck apareceu com o seu “Loser” pareceu-me mais um one hit wonder lançado pela MTV para ser mastigado até à exaustão e depois regurgitado. Kurt Cobain tinha acabado de se suicidar e o mundo da música (especialmente os media que vivem às custas do mundo da música) abriram o recrutamento para a vaga deixada em aberto de centro das atenções. Beck tinha semelhanças físicas com Kurt e cantava com orgulho o facto de ser “Loser”, que naquela altura era visto como topo de carreira. Nada mais fixe do que ser um “Loser” loirinho em 1994 e como tal a MTV decidiu dar-lhe airplay a rodos a ver se a coisa pegava. Mas a grande maioria desconfiou logo da brincadeira e não se deixou convencer. Na minha opinião, e fantasiando um pouco à volta do tema, o próprio Beck não gostou da brincadeira e, ressabiado por ter sido utilizado, decidiu mostrar do que era capaz. Assim se fez Odelay e a sua teia única e absurda de samples, arranjos, instrumentos e principalmente de emoções num mesmo álbum, e por vezes numa mesma música.
Olhemos por exemplo para “New Pollution” – começa em ritmo de música de Natal com efeitos sonoros de desenhos animados, passa bruscamente para uma forte batida de bateria e cheia de ritmo apelando à dança, entra depois um assustador sample de saxofone a acompanhar e aquilo tudo mistura-se num grande loop final, terminando ao som do saxofone sozinho. É apenas uma amostra do que é este disco, uma amálgama de momentos de diferentes estilos musicais que intrinsecamente cosidos fazem sentido. Beck não passa de uma velhinha sentada na sua poltrona a fazer tricot com todo um universo musical. E o resultado é qualquer coisa de extraordinário.
Mas não nos deixemos por aqui, já que o álbum contém uma série de músicas que podem ser ouvidas e re-ouvidas, que já ganharam contornos de icónicas, tal como a capa do álbum, com um Komondor a saltar uma barreira. “Devil’s Haircut”, “Jack-Ass”, “Where It’s At”, “Sissyneck”, “Novacane”, todas com Beck a mostrar os seus skills como rapper e cantautor ao mesmo tempo, guitarrista e samplista, misturando folk e parafernália.
Em jeito de conclusão (e de forma a poderem passar à audição se é que ainda não o fizeram) diria que poucos são os álbuns dos anos 90 que ouvidos hoje soam tão frescos como este Odelay, aposto que se eu lhe mudasse o nome e o colocasse na rubrica dos Álbuns Fresquinhos ninguém iria dar pela falcatrua. E pensar que já foi lançado há 21 anos…
Beck é digno de deixarmos aqui a referencia ao seu Record Club.
Record Club is an informal meeting of various musicians to record an album in a day.