Longe, muito longe, de ser um falhanço, Once Twice Melody não encontra os Beach House na sua melhor forma. Continua a haver grandes canções, uma estética muito própria, e, a espaços, um belíssimo disco apenas traído pela sua dimensão, que põe demasiado a nu as suas fragilidades.
São 18 (!) faixas. Once Twice Melody é longo e, como era relativamente fácil de prever, não está sempre ao mesmo nível. Canção após canção, os Beach House não conseguem, pela primeira vez na sua carreira, contrariar algum desgaste – mas a culpa, sendo maioritariamente do conteúdo, está também na forma.
O disco, como se diz em micaelense, “foi chegando” aos ouvidos dos fãs por capítulos: em novembro de 2021 foram reveladas quatro canções, no mês seguinte chegaram outras tantas, janeiro trouxe cinco e, em fevereiro, foram apresentadas as cinco faixas que faltavam e finalmente Once Twice Melody se revelou na plenitude. Quem, como o escriba, foi ouvindo as faixas à medida que estas eram reveladas, não deixa de sentir um travo agridoce: como pode um disco de 18 faixas, quando é editado na plenitude, saber a pouco?
À duvidosa estratégia de divulgação juntam-se então as dúvidas sobre o rumo dos Beach House em 2022. O anterior tomo, 7, adensou o ‘shoegaze’ nas camadas musicais do duo de Baltimore – com amplo sucesso. O começo do disco – a melhor parte – arranca com Victoria Legrand a chamar pelo “summer sun”, mas a luz só amiúda entra no disco. As guitarras de Alex Scally continuam inconfundíveis, nada de errado há em Once Twice Melody, mas a sensação de que já ouvimos isto no passado, com maior inspiração, atravessa a maioria dos mais de 80 (!) minutos do disco.
“Superstar” é um grande tema, “Hurts to Love” anda lá perto, o tema-título é perto de salvífico – tudo certo. Com algum corte e costura, Once Twice Melody seria um pouco melhor, mas não chegaria perto dos melhores momentos do duo, Teen Dream à cabeça. O amor pelos Beach House não quebrou, mas precisa de uma pausa para respirar.