O lançamento de um disco dos Beach House é sempre um acontecimento, com ávida contagem decrescente desde Maio, quando foi anunciado Depression Cherry. Mas chegado o álbum, recebo-o com sentimentos agridoces. Mais doces, claro, mas ainda assim agri o suficiente.
Quem segue os Beach House sabe que eles já nos habituaram a um elevadíssimo padrão de qualidade, num crescimento lento e sustentado, certeiro como um relógio – um disco a cada dois anos (Beach House – 2006; Devotion – 2008; Teen Dream – 2010; Bloom – 2012). Ao quinto disco quebram esse esquema bienal e rompem também com outra premissa – o tal crescimento sustentado.
A cada novo álbum, a música de Victoria Legrand e Alex Scally vinha dando sempre um passo acima, à fórmula que inventaram acrescentavam sempre alguns pozinhos de grandeza. E é aqui que entra o agri – em Depression Cherry, esse passo não se nota tanto. Comparando com os anteriores, e de uma forma geral, não é totalmente descabido dizer que estas novas canções são uma espécie de resumo daquilo que fizeram, principalmente nos dois últimos trabalhos.
Do ponto de vista do fã exigente, isto não é muito bom sinal, nós queremos sempre mais e melhor, se não melhor pelo menos diferente, não mais do mesmo. É por isso que, em termos relativos, este disco não é tão bombástico como se esperava e pode soar a mais do mesmo.
Mas, em termos absolutos, a conversa é completamente outra! Ouvindo este álbum isolado, sem pensar em comparações, aí temos mais um disco excelente.
É formidável a quantidade de magia que se pode fazer com uma guitarra e um teclado. Alex Scally dedilha melodias líquidas e serpenteantes, Victoria Legrand acompanha nas teclas e canta do fundo da alma, ora doce ora áspera. Juntos, estes elementos criam uma espécie de mantra eléctrico que faz sonhar.
As canções dos Beach House partem muitas vezes da repetição de acordes, que vão crescendo, ganhando intensidade, até entrarem com toda a força no fluxo sanguíneo de quem ouve. As músicas do novo disco são todas assim, carregadas de uma espiritualidade capaz de derreter e desarmar o corpo mais empedernido. Depression Cherry é todo assim, da primeira à última canção.
O quinto disco da dupla de Baltimore é, portanto, tremendamente constante – nenhuma canção é inferior a nenhuma outra, o que faz também com que poucas se destaquem acima das restantes. Ainda assim, aposto as fichas todas em “Space Song”, como aquela que mais facilmente resistirá ao teste do tempo.
Depression Cherry – como o próprio título – é então um disco que suscita reacções contraditórias, quase bipolares. É sem dúvida mais um excelente disco dos Beach House, só é pena não acrescentar muito ao trabalho que fizeram anteriormente. E, como os antecessores, Depression Cherry também consegue ser ao mesmo tempo banda sonora de todas nossas paixões e desgostos de amor.
Em Novembro, todos ao Armazém F ou ao Maus Hábitos, dias 23 e 24, para a apresentação oficial do novo disco, que um concerto de Beach House não é coisa que se queira perder. As salas escolhidas em Lisboa e Porto são – a par com o deserto – espaços ideais para escutar esta música.