O Azores Burning Summer voltou a afirmar-se como um dos momentos culturais mais marcantes do calendário açoriano. Durante dois dias, a Praia dos Moinhos, na freguesia micaelense do Porto Formoso, recebeu um festival que alia música de raiz global, sobretudo africana, a uma forte componente de sustentabilidade.
Mais do que um evento musical, o Burning é já um ritual de fim de verão em São Miguel, celebrado tanto pela comunidade local como pelos visitantes que procuram experiências autênticas no meio do Atlântico.
Na sexta-feira, não nos foi possível acompanhar presencialmente os concertos, mas os relatos de quem esteve na Praia dos Moinhos descrevem uma noite vibrante, nomeadamente por via da energia reggae de Anthony B, que terá transformado o areal num espaço de dança consciente.
O segundo dia concentrou alguns dos mais esperados momentos do certame: Dino d’Santiago, acompanhado pelos históricos Tubarões, inaugurou a noite com uma celebração da identidade crioula que passou da introspeção à explosão rítmica – o espetáculo foi centrado no repertório d’Os Tubarões, o que terá dececionado alguns que esperavam outras canções. O que não faltou, como de costume, foi Dino no meio do público em plena celebração.
Pouco depois, a chegada de Bonga ao palco foi recebida com emoção generalizada. O angolano, em celebração dos seus 50 anos de carreira e mais de 80 de vida, entregou uma atuação profunda, festiva, mas ainda assim intimista dentro do possível, com canções que atravessam gerações e que fizeram ecoar no anfiteatro natural dos Moinhos a força da música como memória e resistência.
O fecho ficou a cargo de Fattú Djakité, que trouxe frescura e vitalidade ao alinhamento. A sua presença em palco encerrou a edição com um tom de festa e esperança, deixando a sensação de que o festival não é apenas uma despedida do verão, mas também uma abertura para novas possibilidades culturais no arquipélago – talvez o peso de África na edição deste ano do Burning tenha sido excessivo, mas a maioria do público parece ter convivido bem com isso.
Para além da música, o Burning voltou a destacar-se pelo compromisso ambiental: copos reutilizáveis, um ‘ecomarket’, exibições de veículos elétricos, cinema ao ar livre e ações de sensibilização provaram que é possível juntar cultura e consciência ecológica. Esses elementos reforçam a identidade singular do festival, que a cada ano volvido se consolida como espaço de encontro entre sustentabilidade, comunidade e diversidade musical.
Com o Atlântico como pano de fundo, o Azores Burning Summer reforçou o seu papel mais uma vez como o festival que marca o “começo do fim” do verão micaelense — uma despedida calorosa feita de ritmos africanos e consciência ambiental.
Fotografias: ContraTempo




























