Sacred Bones Records é um dos melhores segredos da indústria musical americana. A editora nasceu apenas em 2007, no distrito de Brooklyn, em Nova Iorque. Está ligada a nomes como Crystal Stillts, Destruction Unit e Moon Duo, e urge cada vez mais estar atento aos seus lançamentos: poucos dias após o explosivo Tomorrow’s Hits, dos The Men, foi anunciado o disco Love, dos Amen Dunes. É o primeiro álbum ambicioso deste projecto a solo de Damon McMahon, para o qual chamou um conjunto maior de músicos que veio trazer uma maior substância ao som de Amen Dunes – entre eles constam Colin Steson, Elias Ronnenfelt dos Iceage, Robin Peckold dos Fleet Foxes e membros dos Godspeed You! Black Emperor.
Num registo pouco convencional, Damon McMahon transforma o que noutras mãos seriam baladas acústicas de lamentação num conjunto de canções que, além de coerentes, são talvez intrigantes. Ouve-se a voz longínqua de McMahon na inaugural «White Child», por cima de acordes hipnóticos que se arrastam. A excelente «Sixteen» arrasta-se letargicamente e (arrisco) pisca o olho às falsas baladas desse grande agitador da música americana moderna, de seu nome Kurt Vile. «Rocket Flare» traz um psicadelismo sonhador que é aparentemente leve, mas cuja densidade instrumental não permite fazer a ponte, por exemplo, com uns Real Estate ou com uns Woods. Em «I Can’t Dig It» ouve-se um rock que seria garage se não fosse fantasmagórico e quase inacessível (a não ser que estejamos imersos na música) e o disco termina na música homónima que dura mais de oito minutos sem que cheguemos a perceber realmente o que é.
É precisamente essa dificuldade de caracterização que torna o álbum mais complexo – «denso» talvez seja a palavra. É como se McMahon tivesse ouvido Neil Young, Nick Drake e todos os outros clássicos, mas pegasse na subversão moderna dos Fleet Foxes (não é por acaso que Robin Peckold é chamado a participar na faixa «I Know Myself») e de Kurt Vile, versão «God Is Saying This to You…» / «Square Shells», e a levasse a um terreno tão ou mais desconhecido, ainda mais denso e ainda mais intrigante. Amen Dunes é o nome a reter para quem está disposto a meter o puritanismo de lado e a deixar-se envolver no nevoeiro da teia musical do Sr. McMahon.