É o som da destruição.
Muitas vezes penso nas diferentes reacções que os nossos corpos e as nossas cabeças têm relativamente à música que ouvimos. Descrever algo que apreciamos como «o som da destruição» certamente não fará muito sentido para alguns. A minha educação, por assim dizer, foi feita a ouvir bandas do lado mais pesado, e só em anos mais recentes e lúcidos abri a cabeça a outros géneros, aos quais devo um pedido de desculpas por ter sido tão céptica. Ainda assim, no meio daquilo que considero uma coabitação saudável de estilos, acabo sempre por voltar a este «sítio» onde cresci, e, para mim, dizer «o som da destruição» é um elogio.
Perante Clearing the Path to Ascend, não podia dizer outra coisa. O doom que os YOB trazem num álbum composto por
quatro temas é capaz de nos esmagar. «In Our Blood» prepara uma viagem que será atribulada quanto baste, e se forem apanhados desprevenidos, não será por falta de aviso: ouvimos «Time to wake up» nos primeiros instantes, ouvidos em sentido. O som dos YOB é duro, penoso, lento, e se é isso que às vezes querem da música, este álbum não deixa ninguém ficar mal.
É justo dizer que o par «Nothing to Win» e «Unmask the Spectre» saem vencedores deste trabalho. A primeira é densa, não tão lenta como as restantes, mas com uma força muito superior. Ouvir este tema pela primeira vez trouxe-me sensações semelhantes às que tive há anos a ouvir álbuns como Through Silver in Blood (1996) ou Times of Grace (1999) de Neurosis (Clear the Path to Ascend tem o selo da Neurot Recordings, certamente não será por acaso). E as sensações voltam nos momentos mais calmos do penúltimo tema, com as guitarras menos sujas, mais perceptíveis, e com Mike Scheidt num registo que não é o gutural mais duro, mas sem cair no erro de ser tão limpa e perceptível (quase estridente) como no tema de abertura e no de encerramento do álbum. «Marrow» é o tema que mais desilude: no fim de todo o desgaste, esperava uma catarse soberba, mas esta nunca chega a aparecer, o que me deixou um gosto amargo na boca no fim.
Os YOB vão estar por cá no primeiro fim de semana de Outubro, na quarta edição do Amplifest, no Porto. É a oportunidade de testemunharem ao vivo o som da destruição e, espero eu, a catarse.