No final da tarde do dia 23 de agosto, o último do Vodafone Paredes de Coura, o Altamont foi aos bastidores e sentou-se à conversa com o Hugo Gomes e o Manuel Justo dos Sensible Soccers, depois do seu fantástico concerto. Durante 10 minutos, «fartaram-se de falar» sobre a banda, o álbum, o estado actual da música em Portugal e, claro, Sensible Soccer.
Altamont: Quando é que os Sensible Soccers imitam o Rio Ave e partem à conquista da Europa?
Manuel Justo: Não sei… Isso precisa de acontecer de forma sustentada, precisamos de ter alguma equipa à nossa volta, distribuidores lá fora, agentes lá fora e isso é um bocado um buraco negro para nós, ainda.
Ainda…
MJ: Sim, ainda. Claro que nós temos estratégias para tocar lá fora, mas muita coisa pode acontecer connosco. Também podemos existir mais 10 anos ou podemos acabar amanhã.
Hugo Gomes: Nunca se sabe…
Então e… o que quer dizer «AFG»?
HG: «AFG» são as iniciais do nome do meu avô, Alfredo Ferreira Gomes. Nós no 8 fizemos algumas homenagens e isso calhou bem, essa aí. [risos]
O 8 saiu há alguns meses. Como é que tem sido a recepção do público?
MJ: Tem sido óptima mesmo, temos dado montes de concertos que têm corrido, quase sem excepção, mesmo muito bem, com reacções surpreendentes por parte do público e muita outra gente! Tenho sentido um clima de entusiasmo à nossa volta.
E este também?
MJ: Este foi incrível. Eu já frequento o festival desde 1999 e não me lembro de um primeiro concerto ter assim tanta gente. Se calhar é a minha perspectiva transviada pela primeira vez no palco, mas eu não me lembro de ver assim tanta gente, acho eu… E um clima de excitação, foi fixe!
Vocês jogam muito Sensible Soccer?
HG: O Emanuel joga muito, eu jogo pouquinho. [risos] Eu cheguei a tê-lo instalado e agora reinstalei-o novamente porque tenho um emulador da Super Nintendo e tenho alguns jogos da Super Nintendo, então saquei a versão de Sensible Soccer para a Super Nintendo!
MJ: Eu e o Filipe nunca jogámos. [risos]
HG: Mas aquilo parece muito lento porque é um jogo já antigo, e esses jogos dessa fase, jogados agora, parecem muito lentos. Já jogaste PES…
FIFA…
HG: Já jogaste uma série de jogos novos… Mas o Emanuel ainda joga e acha aquilo rápido, se calhar. [risos]
MJ: Eu não acho aquilo muito rápido.
A vossa descrição no Bandcamp é «Four human beings from the rural parts of Portugal, playing a very sensitive soccer with a psychedelic sense». Quando é que vos surgiu este sentido extra?
HG: Isso foi uma descrição que estava ali à mão de semear na altura, não foi uma coisa muito pensada.
MJ: Não é muito pensada, mas um bocadinho reflectida. É um bocadinho chata, a palavra «psicadélica», mas, sim, nós andamos muitas vezes à volta da progressão, à volta da repetição, do crescendo, e nesse sentido acho que a nossa música depois também se reveste de texturas meio maradas e, lá está, meio psicadélicas.
HG: Há um ideal psicadélico na música…
MJ: Sim. E depois nós ensaiamos numa aldeia, que é onde é a casa do Hugo. Tem montes de quartos e nós ensaiamos, ficamos e dormimos lá e quando precisamos de gravar um disco é lá que gravamos. Aquilo é um conforto para nós, muito mais confortável do que no início, quando ainda fizemos uns ensaios valentes no Stop, no Porto. Gostamos mais daquilo.
O vosso som vem de onde? Quais é que são as vossas maiores influências?
HG: São muito diversas, tanto as musicais como as não-musicais. As influências musicais são muito diversas, e acho que cada um dos quatro tem um gosto seu, e então, quando estamos em banda, tentamos levar a coisa para um campo que nos seja confortável. Não sei que bandas referir que se possam reflectir nesse campo dos quatro, mas é muita coisa que vai desde coisas novas até antigas. Do Zappa aos Pink Floyd até coisas que tenham um, dois anos.
MJ: Não é uma coisa muito pensada. Ou melhor, não é praticamente nada pensada, isto é, não andamos ali à procura de pontos em comum, aquilo acontece assim e pronto.
HG: E gostamos de coisas muito diferentes, desde música de dança e pop comercial até à coisa mais noise e mais complicada
O que vocês fazem cá em Portugal, o vosso som, não é muito comum. Acham que o mercado português está agora a aceitar som mais «estranhos», digamos assim, mais vindos de fora?
HG e MJ: Está a aceitar muito bem!
Está agora a abrir os ouvidos a novas sonoridades?
MJ: Ui, e de que maneira!
HG: O Paredes de Coura está esgotado!
MJ: Às vezes um gajo até pensa: «Será que o Diogo, o nosso manager, chegou lá e pagou 5 € a cada uma das pessoas para estarem assim tão dispostas e animadas?»
HG: As pessoas estão muito dispostas e sem pensar se não vão gostar daquilo amanhã. Gostam agora e depois logo se vê! Vejo isso a acontecer um bocado com muitas bandas novas portuguesas.
Um amigo meu disse, há uns meses, depois de ouvir o 8, que aquilo é como «uma obra-prima que nem parece nacional». O que é que vocês acham disso?
MJ: É fixe ouvir uma coisa dessas! [risos] Mas também vale o que vale, não há-de ser isso que nos vai levar a lado algum, mas é muito fixe ouvir uma coisa dessas, claro que é muito fixe. Qualquer elogio é bom de ouvir, ninguém fica chateado se nos elogiam…
HG: Esse não nos chateia!
MJ: Esse é bom! [risos]
Como é que foi o processo de gravação do 8?
HG: Ui, foram ali 15 dias em Fornelo em que nos juntámos com o nosso técnico de som, o João Moreira. Já tínhamos umas demos gravadas e então juntámo-nos ali durante 15 dias com material emprestado por amigos nossos de outras bandas, também com muito apoio da editora e das bandas associadas a uma das editoras, a PAD. Depois com esse material recriámos algumas das músicas que já tínhamos em demos, outras criámos…
MJ: Como o Filipe costuma dizer, são propostas para aqueles temas; podia ter saído de uma maneira diferente, saiu assim. Muitas das coisas não são pensadas. Por exemplo, uma coisa que costumamos referir: tínhamos lá um pré-amplificador que põe um colorido muito particular ao longo do disco todo, há sempre um hiss, tipo de cassete. Foi uma coisa que verificámos a partir do momento em que começámos a gravar com aquilo e constatámos: «Ui, tudo o que passa por aqui tem este hiss e vai passar tudo!»
HG: E aceitámos muito bem isso.
MJ: Adaptámo-nos às condições técnicas e tentámos fazer o nosso melhor. Não tínhamos propriamente relação com aquele material, tivemos acesso ali, naquela altura, e tentámos gravar boas propostas para aquelas músicas, que se calhar podiam ter sido um bocadinho ou completamente diferentes.
Já têm planos para um novo disco?
MJ: Não.
HG: Nenhum mesmo.
Que artistas desta nova vaga musical portuguesa é que vocês acham mais interessantes e excitantes?
HG: Eu acho que há muitas bandas neste momento que estão num ótimo ponto de partida para daqui a algum tempo se tornarem excitantes. Estão a construir isso, e a quantidade de bandas desse género… Isso é excitante. Individualizar…
MJ: É complicado.
HG: Tens os HHY & the Macumbas, achámo-los relativamente excitantes…
Agora sobre a vossa génese. Quando e como é que surgiram os Sensible Soccers?
HG: Começámos agora em 2011.
MJ: Sim. Foi no verão de 2011, já estávamos a gravar o EP [o homónimo sensible soccers EP]. Ele [HG] começou a fazer umas demos já em 2010, se calhar 2009. Lá está, fez umas coisas no computador, mandou ao Emanuel, depois este meteu umas linhas de baixo, entretanto pareceu-lhes que aquilo ia bem, chamaram o Filipe, que é um músico…
HG: É o nosso produtor.
MJ: É um músico de uma outra estirpe que nós não somos, e então depois entrei eu e aí fixámos a formação. Já estávamos em processo de gravação do disco…
HG: Verão de 2011.
MJ: Depois começámos a tocar em outubro de 2011, até agora, sempre seguidinho! [risos]
E agora uma última pergunta… o que é que ela fez para vos fazer sofrer?
MJ: Nem foi isso. [risos] Nós não temos muito jeito para dar nomes às músicas, nem temos propriamente um conceito de construção da música. Então nenhuma das nossas músicas propriamente dita tem um título à nascença. Vamos buscar uma coisa engraçada e, como aquilo tem um ritmo meio de lambada psicadélica, se se pode dizer assim…
HG: Completamente!
MJ: Achámos por bem que aquilo tivesse um timbre meio brasileiro e psicadélico ao mesmo tempo e, por isso, que ficava bem um «Sofrendo por você»!