Alfa Mist amadureceu e dá-nos um disco de jazz abstrato que não poderia ter sido feito por outro senão ele.
Há algo de mágico a acontecer na margem sul de Londres. A superfície lamacenta do Tamisa reflete-se em acordes dissonantes de piano elétrico, na cadência sincopada de saxofones e na groove densa de baixos e contrabaixos. Uma vertente modernizada do jazz anda a espalhar-se por essa zona da capital inglesa, encabeçada por nomes como Ezra Collective, Kamaal Williams e Nubya Garcia.
Algures no meio desse epicentro criativo encontra-se Alfa Mist, que começou a dar que falar em 2017, com o lançamento de Antiphon, um disco que mostrava promessa apesar da sua falta de foco. Structuralism, por seu lado, consegue ser um disco muito mais conciso e muito mais expansivo. Não há aqui qualquer contradição: é um disco mais curto mas que conta com um leque mais extenso de instrumentos e uma abordagem mais exploratória.
Tal como “Keep On” que abre o álbum anterior, “.44” é longa e disforme. No entanto, o enlaçamento fluído de piano e trompete que precede o solo de guitarra vai, tematicamente falando, muito mais longe sem que a nuance se perca no maximalismo. Structuralism aliás presta-se a vários graus de escuta, funcionando perfeitamente como música de fundo mas recompensando consideravelmente a escuta atenta e dedicada. As linhas de trompete de “Mulago” que oscilam algures entre o marcial e o fúnebre podem passar despercebidas à primeira, mas escutas posteriores revelarão que é à volta delas que a música gira.
O próprio Alfa aproveita a oportunidade para mostrar uma nova faceta: O seu verso em “Glad I Lived” é contido, quase sussurrado, como se estivesse a rappar apenas para o ouvinte, à semelhança do seu vizinho Rejjie Snow. Falando em performances vocais, as secções spoken-word que caracterizam o trabalho do músico, apesar de ainda existirem, foram substituídas maioritariamente por canções curtas que demonstram os impressionantes dotes vocais dos regressados Kaya Thomas-Dyke e Jordan Rakei.
Structuralism é um passo de gigante para Alfa Mist. Abstrato sem ser pretensioso e sensual sem ser sentimentalista, é um disco maduro e focado, criado por um artista que já conhece cada recanto do seu som e o domina completamente.