Cada vez mais acredito na atracção energética inconsciente. Mesmo que não saibamos logo o conteúdo de uma mensagem, se os primeiros instantes forem confortáveis, é porque estamos no caminho certo. Faz-me lembrar quando, em miúdo, integrava uma turma nova ou um grupo de desconhecidos. No meio da «multidão» havia sempre expressões ou atitudes mais familiares. Roupas ou adereços que podiam ser nossos. Eram essas as pessoas que eu escolhia. Era com elas que formava parelha. Inconscientemente, sem que nos apercebamos do fenómeno (é tudo muito rápido, essas decisões fazem-se em fragmentos de segundo), já temos um companheiro de carteira ou uma equipa de futebol formada. O que existia apenas no plano das suposições passa a ser real. A inevitável tendência para os corpos se atraírem.
Com o disco de Alex Cameron, ainda bem antes de saber as verdadeiras intenções do projecto, bastaram-me as simples melodias sintetizadas para me deixar arrumado; com vontade de saber mais acerca de quem é Alex Cameron, de onde vem e o que pensa ele da música que faz.
E para nos enquadrarmos, é relevante saber-se que Cameron, antes desta experiência a solo, já gravou três álbuns com a sua banda original – os Seekae. Vêm de Sydney e tocam uma electrónica imbricada e sofisticada, inicialmente parca em palavras, porém sempre generosa em arranjos multidimensionais.
Mas agora é tempo de falarmos de Jumping The Shark, excelente exemplar de pop minimal elementar. Um sintetizador e uma caixa de ritmos é quanto baste para dar corpo às suas miserabilistas letras. A inocência de construção da sonoridade torna Jumping The Shark num exercício quase infantil de experimentação instrumental. As melodias são serenas, e só mesmo a voz teatral e encorpada de Cameron faz com que a coisa nos pareça profissional.
Trata-se de uma colectânea de contos sobre tristeza, desilusões e inevitáveis fracassos. Durante as tournées, Alex Cameron foi construindo um reportório exclusivo de canções que documentam o mundo falido e moralmente vazio do espectáculo. «Como auto-proclamado músico e ser humano, senti que a única maneira de descobrir a sensação de liberdade era através da exploração de todos os meus fracassos como homem». As palavras de Cameron são inequívocas. Há beleza e triunfo na confissão dos nossos fracassos. E porque nos dias que correm, falhar é uma tragédia, eis a beleza do fracasso, a tragédia contemporânea vestida numa opereta electrónica de sentimentos reais.