A primeira vez que vi os Black Angels ao vivo foi em Fevereiro de 2007 num bar mínimo e escuro (muito escuro!) em Londres. Tinham editado apenas o álbum Passover, o primeiro ainda, e eram claramente a banda que nunca ninguém tinha ouvido falar e que queriam ver como era. Eu tinha ido atrás deles até ali, àquele bar sob o comprido com um palco tão pequeno que os cinco elementos dos Black Angels mal se conseguiam mexer. Ainda assim, foi um concerto tão brutal, tão visceral que ainda hoje está na lista dos melhores que já vi. Até trouxe a setlist, escrita num guardanapo, e a certeza de que iria continuar atrás deles. Mesmo se a música deles perdesse aquela parte visceral que me captou. E perdeu.
A diferença do primeiro e segundo álbum (Directions To See A Ghost) para os que seguiram é notória e portanto, Indigo Meadow, o quarto disco de originais – editado a 2 de Abril – não é excepção. A banda de Alex Maas, agora só com quatro elementos, afastou-se ainda mais dos dois primeiros álbuns, que eram mais densos e, diria mesmo, brutos. Uma espécie de heavy metal psicadélico que recorria mais à bateria e ao baixo, aos graves e a uma voz mais embargada.
Agora a voz está mais limpa, usam mais as teclas e as guitarras estão mais clássicas naquilo que é o tradicional rock psicadélico dos anos 60. E depois dão um toque de modernidade ao incorporar sons electrónicos que fazem lembrar as séries de ficção cientifica dos anos 60 e 70. Até a duração das canções é menor – algumas menos de três minutos, quando antes se alongavam em experimentalismos para lá dos cinco.
Mas atenção. Nada disto é mau. Pelo contrário, continua muito bom. O primeiro tema – que dá o nome ao álbum – o single, Don’t Play With Guns, ou o tema Love Me Forever são absolutamente viciantes. Daqueles que nos lembramos se vamos cantar no banho ou que não nos saem da cabeça o dia inteiro. E depois, mesmo sendo mais fáceis de ouvir, continuam brutos na mensagem. Aliás, Alex Maas diz que os Black Angels sempre tentaram abordar nas canções temas difíceis de lidar ou enfrentar, porque não é a fugir que eles se resolvem. Não admira por isso que ainda haja alguma da densidade sonora que tanto os caracterizou.
PS: Os Black Angels nunca deram um concerto em Portugal. Agora estão em digressão pelos EUA e no próximo domingo, 28 de Abril, tocam no Austin Psych Fest, no Texas, o paraíso do rock psicadélico. Em finais de Junho chegam à Europa, muito perto do Alive e do SBSR. Será desta?