O ano podia ter sido de Kendrick Lamar, a viver o momento da afirmação, do pontapé no mainstream, da digressão internacional sempre por casas cheias. Não foi. Do fundo baú, com ânsias de dar sinais de vida, de trocar o estatuto de velhas glórias, pelo de senadores no activo, primeiro saltaram os De La Soul. E o Mundo aplaudiu. Depois, a fechar o ano, a Tribe Called Quest voltaram aos originais. E subitamente 2016 passou de ano amargo – sim, ouvimos o Kendrick com os Maroon 5 – a ano de colheita memorável.
A luta foi dura. Se os De La Soul tiveram de recorrer a uma campanha de crowdfounding para lançar and the Anonymous Nobody, a Tribo teve de superar a dor do luto. We Got it From Here … Thank you 4 your service, ganhou o título e o tom na morte de Phife – fundador, falecido este ano, aos 45, com diabetes -, a fúria na América que elegeu Trump e o som numa brilhante mistura entre as marcas que registaram em 1990 (People’s Instinctive Travels and the Paths of Rhythm) e a inesperada capacidade de as fazer soar a 2016.
Nascidos e criados entre o Jazz, as batidas afro e os samples do rock alternativo, mestres nas rimas contagiantes, à Tribo os anos custaram a passar. Em Lost Somebody despedem-se de Phife, em Melatonin avisam que foi o presente quem os obrigou a interromper a reforma, e garantem que o assunto é sério em We The People.
Com uma lista de colaboradores de luxo – Lamar, Kanye, Snoop, Jack White, Paak, Kweli e John, sim o Elton -, 26 anos depois da estreia e 18 passados do último álbum (The Love Movement), os Tribe Called Quest lançaram a discussão – estarão na sua melhor forma? O galardão para disco do ano roubaram.