Detestamos dizer-vos que avisámos que seria um grande concerto. Confirmou-se.
O que é que pode passar pela cabeça de alguém que chega ao final de mais um dia no escritório, sob aviso laranja em quase todo o país, na véspera de uma anunciada madrugada chuvosa? Ouvi Nashville? Isso mesmo! Larguei os sapatos apertados, jeans e t-shirt vestidos, e lá fui eu a correr para o Campo Pequeno, a ver se ainda chegava a tempo de ver uns tais de Snõõper, vindos da terra do whiskey, no Tennessee.
Pelas 20h15, os cinco elementos abriram as hostilidades e lançaram-se para meia hora de punk rock. A postura enérgica, sobretudo da vocalista, que não parava de saltar e dançar em palco, conseguiu cativar as pessoas que iam chegando à sala e que a viram cantar a última música, no meio do público, na “pele” de um bicho verde.
Seguiram-se os Yard Act, uma banda de Leeds com a qual tomei contacto em plena pandemia. Foi a primeira vez que os vi ao vivo, e estiveram à altura. Um arranque forte, com som nítido de guitarra, baixo e bateria que suportavam James Smith com a spoken word característica e tão bem interpretada em “Fixer Upper”. Uma curta interação com o público antes de “Rich”, teve até direito a uma invocação de Shakespeare, talvez para lembrar que a pobreza continua a ser um problema em 2025, tal como era há cinco ou seis séculos atrás. A sala começava a encher e, apesar de cético, o público começava a embalar com a nova música “New Beginnings”, que foi muito bem recebida. “Dark Days” e “The Overload” foram excelentes escolhas para encaminhar o concerto para um belo final. Apesar de se apresentarem sem grandes adornos, a sonoridade é, de facto, diferente, baseando-se nos elementos básicos de uma banda rock, com letras cuidadas e cantadas, por vezes, como uma espécie de rock / hip hop dos anos 90. Acredito que não foi a última vez e espero que voltem em breve, se possível para tocar em nome próprio, numa sala um pouco mais pequena.
A sala já estava bem composta e na meia hora que se seguiu acabou por encher, para receber de forma calorosa a banda que todos queriam ver e ouvir. Como seria de esperar, entraram cheios de energia, para mostrar ao público português o álbum lançado este ano The Hives Forever Forever The Hives. Os suecos The Hives não deixaram os créditos por mãos alheias e conseguiram uma conexão forte, desde o início entre o público e a banda, em particular Pelle Almqvist que é um entertainer puro, e que dividia o tempo entre o palco e a primeira fila da plateia. Impecáveis como sempre na apresentação e a nível cénico, tiveram que lidar com uma guitarra que insistia em não funcionar, tendo persistido este contratempo durante algum tempo.
Os temas bem conhecidos do passado, como “Main Offender”, “Bogus Operandi” e “Walk Idiot Walk” faziam dançar e saltar todos os que tinham agora a certeza de terem tomado a decisão certa quando saíram, numa noite que convidava a ficar em casa. Pelo meio, eram introduzidos temas do novo álbum que traz a sonoridade punk rock de início de carreira, com particular destaque para “Paint a Picture”, que resultou muito bem e que promete ser mais um grande hit da banda. “Hate to Say I Told You So” e “Tick Tick Boom”, foram as músicas mais aplaudidas, como era expectável, apesar de me parecer excessivo o “prolongamento” que se faz das mesmas com as apresentações dos elementos da banda ou a abertura de um “túnel” entre o palco e a régie.
Nota ainda para o momento especial criado com a chamada ao palco de todos os músicos das bandas anteriores para virem cantar “Come On!”. Após uma pequena pausa, regressaram para um encore onde incluíram “Legalize Living” do novo álbum, tal como “The Hives Forever Forever The Hives” que acaba por coroar e eternizar a banda sueca, que continua cheia de energia para espalhar por esse mundo fora.
Texto de David Branquinho | Fotografias: Inês Silva


















