Quando Liam e Noel Gallagher baixaram as armas e decidiram voltar a estar do mesmo lado, o resultado é uma explosão de euforia colectiva, contida durante 16 anos. Os Oasis estão de volta!
À partida para a viagem de 60km de comboio entre Bristol e Cardiff, a relação entre pessoas que estão só a fazer a sua vida normal e “madferits” equipados de t-shirts de Oasis e chapéus de balde é facilmente de 1 para 20. E isto é só o início da viagem. À chegada o cenário é avassalador: uma cidade inteira tomada de assalto pelo início da reunião de Oasis. Em cada palmo de asfalto, cada bar, cada esquina, celebra-se antecipadamente a libertação da tensão acumulada nos 16 anos desde o fim da banda, alimentada por trocas de bocas incessantes entre Liam e Noel Gallagher.
Mas as armas calaram-se, a espera acabou, o espírito dos anos 90 paira sobre dezenas de milhar de pessoas e é como se as cores ficassem mais vivas, a fruta voltasse a saber a alguma coisa e comprar casa fosse uma ambição atingível.
Pontualmente às 20:15 e depois dos sets dos velhos amigos Cast (que dedicaram “Walkaway” ao Diogo Jota) e “Lord” Richard Ashcroft (intacto na figura, maneirismos e principalmente voz desde cerca de 1992), a velha gravação de entrada avisa “This is not a drill”. É a sério. Começa agora a reunião para acabar com todas as outras, só para as 17 datas no Reino Unido e Irlanda foram vendidos 1.4 milhões de bilhetes para uma procura 10 vezes superior.
O instrumental “Fuckin’ in the Bushes” traz a banda para o palco como desde a sua edição no álbum de 2000 Standing on the Shoulder of Giants, Liam e Noel entram de braço por cima um do outro. Mais do que colegas de banda, sente-se que voltaram a ser irmãos. O rugido de cerca de 80 mil pessoas parece que vai fazer saltar a cobertura do Principality Stadium. E ainda não foi tocada uma nota.

Liam atira-se ao microfone como um animal selvagem e o concerto começa com a vénia estrondosa ao glam de “Hello” e o refrão pilhado ao infame Gary Glitter “Hello, hello, it’s good to be back” cantado em uníssono pelos irmãos. Claro que há gente com idade para ter juízo a lacrimejar em redor. Segue-se o fraternal lado-B “Acquiesce” em que Noel responde às partes A de Liam com o refrão “because we need each other, we believe in one another” e a percentagem de pessoas que choram, saltam e atiram copos de cerveja ao mesmo tempo aumenta. O set é extremamente concentrado na era imperial da banda, entre 1994 e 1997, abarcando os três primeiros álbuns e uma colecção de lados B capazes de envergonhar os maiores êxitos de muitas outras carreiras ao longo dos tempos. A formação da banda recupera a sua forma final, com Gem Archer (um dos tipos com mais pinta a pegar numa guitarra) e Andy Bell (que pôs os Ride em banho-maria para voltar a tocar baixo nos Oasis), à qual se acrescentou uma terceira guitarra por parte do regressado fundador Bonehead, e como novo baterista (o 14º da banda, gracejou Noel) o americano Joey Waronker.
Do colossal segundo álbum (What the Story) Morning Glory? são disparados o tema-título e “Some Might Say”, do álbum de estreia Definitely Maybe ouvem-se “Bring It On Down” e “Cigarettes & Alcohol” que apenas começa quando toda a audiência cumpre a ordem de Liam de se colocar de costas para o palco e de braços por cima uns dos outros, a replicar a famosa coreografia Poznan das claques do Manchester City.
Pouco depois, Liam sai do palco para o habitual repouso vocal e deixa as rédeas a Noel para um segmento de dois lados-B (“Talk Tonight” e “Half the World Away”) e “Little By Little”, o único tema pós-1997 a ser tocado. Liam regressa com dois temas do excessivo terceiro álbum Be Here Now, uma versão mastigável (na medida em que foi bem mais curta que os quase 8 minutos da versão original) do primeiro single “D’You Know What I Mean?” e “Stand By Me”.
Na recta final do alinhamento, a sublime “Cast No Shadow” originalmente dedicado a Richard Ashcroft, a power-ballad definitiva da Britpop “Slide Away”, o single isolado “Whatever” com as partes da orquestra original a serem cantadas por 80 mil vozes, a eterno hino “Live Forever” com a imagem de Diogo Jota a aparecer nos ecrãs que ocupavam toda a largura do relvado e a eterna declaração de intenções “Rock n Roll Star”.
Noel regressa para o encore com mais uma pérola escondida num lado-B: “The Masterplan” é dedicado “a todos os miúdos com menos de 20 anos que nunca nos tinham visto mas mantiveram esta merda viva”, seguido de dois dos hinos nacionais (“Don’t Look Back in Anger” e “Wonderwall”) para Liam terminar o serviço com o cósmico “Champagne Supernova”, não sem antes perguntar se não achavam que tinha valido as 4 mil libras que pagaram pelo bilhete. Os irmãos saem com mais um abraço, o público sai como se o mundo tivesse ficado melhor e 16 ou 30 anos tivessem sido no outro dia.
Setlist:
- Hello
- Acquiesce
- Morning Glory
- Some Might Say
- Bring It On Down
- Cigarettes & Alcohol
- Fade Away
- Supersonic
- Roll With It
- Talk Tonight
- Half The World Away
- Little By Little
- D’You Know What I Mean?
- Stand By Me
- Cast No Shadow
- Slide Away
- Whatever
- Live Forever
- Rock n’ Roll Star
- The Masterplan
- Don’t Look Back In Anger
- Wonderwall
- Champagne Supernova