As madrilenas Hinds estão mais fortes que nunca e demonstram-no ao quarto álbum. Viva Hinds!
Carlota Cosials e Ana Perrote agora são um duo, depois da saída de Ade Martín (baixista) e Amber Grimbergen (baterista) em 2022 e (até custa escrevê-lo mas) estão muito melhor assim, ao ouvir Viva Hinds. Que todas as canções podiam ser singles é o maior elogio que se pode fazer a este disco que tardou quatro anos em sair depois de The Prettiest Curse, de 2020.
O álbum foi gravado com Pete Robertson, baterista de The Vaccines e simplesmente flui de forma magistral. Tem ainda direito a companhia de luxo, como Beck Hansen ou Grian Chatten dos Fontaines D.C. porque se há coisa que as Hinds sempre pautaram foi por não parecerem uma bizarria musical. Só isto já é obra. Pensarmos nas Hinds como uma boa banda de rock e não como uma banda espanhola é um feito que não está ao alcance de todos e para isso ajuda a carreira de Cosials e Perrote que souberam ou conseguiram posicionar-se ao lado de bandas e artistas que ouvem elas próprias.
Viva Hinds arranca com “Hi, How Are You”, canção sem medos de ser garage rock, cheia de fuzz. Prelúdio do que está por vir neste disco. Mas a canção seguinte muda de estilo para uma balada mais dreampop com “The Bed, The Room, The Rain and You”, a mostrar a versatilidade do duo.
É com “Boom Boom Back” que encontramos um dos pontos mais altos do disco, o que é difícil num trabalho onde todas as canções são pontos altos. É um daqueles álbuns que vamos mudando de canção preferida à medida que escutamos mais vezes. A faixa conta com a participação de Beck e é a coisa mais interessante que Beck fez desde há muitos anos. Nesta canção, e no geral em todas neste disco, transparece a diversão. Aqui está um hit para festas indie de bom gosto. Nesta música a minha parte preferida é o diálogo entre Cosials e Perrote sobre a afterparty, mas nem vou escrever aqui a letra para não estragar.
Logo sem dar tempo de respirar, chega “Stranger”, com a participação de Grian Chatten dos Fontaines D.C., se calhar uma das mais “normais” no meio deste Viva Hinds. Ainda assim fica o exercício. Deste disco de 10 canções saíram cinco singles. Sabendo isso de depois de ouvir o disco, quais serão elas? Porque como escrevi anteriormente, todas as canções de Viva Hinds são singles potenciais.
A quinta canção é “Superstar”, um hino a alguém que trocou os amigos por uma fama discutível. Em entrevistas elas disseram que era sobre quando alguém de quem gostas desaparece sem explicação (None of your friends will tell you how they really feel). E na sexta música, a maior novidade deste disco. Pela primeira vez as Hinds cantam no seu idioma natal, e logo com duas canções, “Mala Vista” e “En Forma”. Ao ouvi-las perguntamos porque não fazem mais canções em espanhol porque se é este o resultado, vale a pena.
Antes da infecciosa “Coffee”, que depois de ouvir não sai do ouvido (I like black coffee and cigarettes), temos “On My Own”, que começa em falso mas abre para uma animada canção sobre estar sozinha (You said that I was the one/ you just fucked it up). Já na reta final de Viva Hinds, “Bon Voyage” é uma música mais calma que dá passo a uma faixa bónus muito dançável, “Bats”.
Em Viva Hinds, Cosials e Perrote passam a ideia de amizade, diversão e um pouco de sarcasmo. É um disco que não merece ser esquecido, sem dúvida um dos melhores álbuns de 2024, obra maior da discografia das Hinds e também da música alternativa dos anos 20 do século XXI.