Esta segunda-feira à noite Lisboa encheu o Maria Matos para sentir ao vivo pela primeira vez o recém editado Dissidente – o quarto álbum de Tó Trips em nome próprio acompanhado pelos deliciosamente apelidados Fake Latinos
“ressonância
(res·so·nân·ci·a)
nome feminino
- Propriedade de aumentar a duração ou a intensidade do som.
- Eco, reflexo, repercussão.
- Maneira como um corpo transmite as ondas sonoras. (…)”
“ressonância”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/resson%C3%A2ncia.
O nosso herói pode não ter medo de tocar sozinho, mas como já admitiu em várias entrevistas, prefere ter companhia. E, faz ele muito bem, arrisco eu a dizer. Uma série de audições compulsivas a este novo registo, deixa uma forte sensação que as composições do guitarrista alfacinha não só se vão aprimorando com o avanço dos brancos na sua cabeleira desalinhada, como vêm os seus contornos reforçados pelo trabalho cirúrgico de Alexandre Frazão (bateria e percussão), António Quintino (contrabaixo) e Helena Espvall (violoncelo).
O palco parece imenso para albergar os quatro músicos. O cenário escuro e despido. Muito espaço negativo a realçar o brilho emanado pela música e pelo belo jogo de luzes! Num alinhamento dominado pelos temas de Dissidente, o escuro e o silêncio assumem uma importância tão grande quanto as notas e os acordes escolhidos por Tó Trips e companhia. E é esse equilíbrio que muito ajuda a propagar a bela e densa ressonância que vou sentindo internamente … no corpo e na alma, se essa distinção vos fizer sentido.
À medida que o concerto avança, a intensidade vai aumentando ao sabor das texturas imprimidas pelo quarteto, que se primeiro estende a quinteto com Luís Cunha no trompete e mais tarde a sexteto com o saxofone de João Cabrita.
Será tanto pacífico como consensual associar a música dos Dead Combo e de Club Makumba a viagens, aos cambiantes de cores, cheiros e temperaturas carregados pela transição de latitudes e longitudes! E, sendo certo, que continuamos a ouvir Nova Iorque, Marraquexe ou a América Latina, eu confesso que me vou sentindo mais a viajar internamente … ali parado ao fundo da sala, enquanto misturo memórias vividas com pedaços de filmes, passagens de livros, fotografias e sonhos … muitos sonhos.
Alinhamento
- Havana Alfama
- Fiesta Triste
- Rua Escura
- Dissidente
- Lisbon Fever
- Mornacola
- Tango Surdina
- Old Times Bunny
- Amor Em Tempos Fodidos
- À Beira Rio Com Os Meus Amigos Fantasmas
- L.A. Chet + Kerouac
- East Village
- Fake Latinos
Encore
- Península Dos Índios
- Pra Lá De Marrakesh
- End Of An Endless Road
Fotografias de Rui Gato
















