Os Hurray for the Riff Raff deixaram de ser um segredo bem guardado ao lançarem um evidente candidato a disco do ano.
Não é meu apanágio usar palavras muito caras nesta chafarica, mas para com The Past is Still Alive só uma me ocorre – resplandecente. Uma pérola que nos chega do outro lado do Atlântico e que pinta um retrato simples e cru do estado actual da América. Com uma sonoridade sombria, naturalista, um terço elétrico e dois terços acústico, conseguimos ter vislumbres da palete de emoções inerentes à experiência humana mas, espreitando no fundo, violência, herança genética pesada e mal consumada, fentanil e barris de petróleo.
Antes de entrar com maior profundidade no disco, preciso de fazer um disclaimer – eu avisei que estamos perante uma banda (que no fundo é um projecto pessoal de Alynda Segarra, para o qual convoca músicos para gravação e concertos) que merece atenção, na crítica feita ao anterior LIFE ON EARTH, de 2022. Se não me deram ouvidos na altura, espero que não percam mais esta oportunidade.
The Past is Still Alive é um disco que voa, os seus 36 minutos são consumidos como um fósforo, mas a marca que deixa é muito mais duradoura. Será díficil que não fiquem coladas na vossa memória frases como “some things take time” (“Buffalo”) e a referência ao título do álbum “It’s all in the past but the past is still alive”, em “Vetiver”. Ou a doçura de um “I know that it’s dangerous, but I wanna see you undress” na enorme “Colossus of Roads”, muito possivelmente a melhor música do disco.
A base country/folk é um toque pessoal do produtor e baixista da banda, Brad Cook, que também participou em trabalhos de Waxahatchee e Jess Williamson, sendo as similaridades bem notórias. Mas as estórias de Segarra têm o condão de terem sido vivenciadas na primeira pessoa, percorrendo o país de comboio, vivendo com sem abrigo, cooperando em associações que os ajudam. E a forma como as conta é profundamente cativante.
Já perto do final do disco temos, em “The World is Dangerous”, a participação de Conor Orbest, uma das faces mais queridas do indie dos anos 00’s com os seus Bright Eyes. É uma bela forma de terminar o disco, com a esperança de que ainda há o amor.
I still love you
Oh, I still love you
When everything’s crumbling
Just know that I do
A oportunidade de apanhar Alynda e sua banda em Coura chama por nós, e será muito difícil resistir ao apelo.