“They be jammin’.”, lê-se na página dos ’68.
Os ’68 são dois. Metade dos ’68 é Josh Scogin, e se não sabem quem é este tipo, deviam. Scogin foi vocalista dos Norma Jean e tem no seu currículo o enorme Bless The Martyr And Kiss The Child (2002). Dos Norma Jean fez uma saída pacífica, e pouco tempo depois apareceram The Chariot, com um trabalho em muito idêntico ao de Norma Jean. O rumo até podia ser o mesmo, mas Scogin escolheria um caminho diferente, e entre álbuns de The Chariot apresentou o projecto A Rose By Any Other Name, com tendência a acabar mais próximo do baladão que da frenética e quase caótica estrutura das suas composições anteriores. Francamente mau, sim, mas deixava claramente perceber que Scogin não pretendia reduzir-se à redoma do hardcore e seus sub-géneros. E depois, em 2013, chegaram os ’68, e a Josh Scogin juntou-se Michael McClellan
Posto isto, e porque não quero dar-vos nenhuma palestra sobre as guitarras aqui e ali e dinâmica ao longo do disco e tudo o mais que podem encontrar noutra apreciação qualquer, deixo-vos uma mão de razões para irem ouvir o primeiro álbum dos ’68, In Humor And Sadness. No fim da linha, gostava que gostassem tanto deste disco como eu, mas se não der, que gostem de uma boa parte dele.
1. Se ouviram Norma Jean ou The Chariot, este disco é para vós. O hardcore está lá, claro que está. “G” até pode ser, a espaços, a versão lapidada de “I Used To Hate Cell Phones, Now I Hate Car Accidents”. A herança das bandas anteriores de Scogin não foi deixada ao acaso, nem podia, é o elemento natural de Scogin.
2. A primeira audição é uma surpresa. Não há dois temas que vos soem iguais, e mesmo quando parece que isso está quase a acontecer, os ’68 entram a pés juntos e resolvem a situação. Melhor exemplo disso? A sexta e a sétima faixas (“T” e “N”, respectivamente). São 34 minutos, um trabalho sem fillers, sem cansaço. Vão querer ouvir de novo.
3. É um dos trabalhos mais crus que ouvi nos últimos tempos. Os imprevistos do processo de gravação, como falhas no material, foram mantidos. E porque não? Afinal, ao vivo todos damos pregos, todas as cordas se partem e o som às vezes é uma merda. A aproximação ao que efectivamente pode soar ao vivo acaba por tornar o trabalho mais genuíno, e citando Scogin “mais humano”.
4. Não há dúvida que Scogin pôs muito das bandas e artistas que gosta na concepção deste trabalho, mas fá-lo sem tornar a música clone das suas referências.
5. Se não ouviram Norma Jean ou The Chariot, não há problema, este disco também é para vós. Os ’68 são rock, sem ser estafado, sem ser “outra vez arroz”. Desde You’re A Woman, I’m A Machine (DFA1979, 2004) que não via dois tipos fazerem tamanho basqueiro.
In Humor And Sadness lembra-nos sempre onde começou a música de Josh Scogin, com a agressividade a roçar exaustão na sua performance a ser a fachada do edifício. E como nos edifícios, há mais depois da fachada. O pedal de distorção já não está sempre ligado, e é tão bom ouvir temas como os dois “E”, a arrancarem limpos, ou como “T”, já nos minutos finais, num registo tão diferente daquilo que conhecíamos de Scogin. Alguém que lhes dê ouvidos, porque este é, definitivamente, o salto para fora da caixa que Scogin procurou durante mais de dez anos.
Bela estreia, Susana! Fiquei logo com vontade de ouvir o disco.