Os álbuns mais interessantes são aqueles que crescem connosco. Álbuns que a cada escuta vamos conhecendo melhor e que nos impelem para o ouvirmos continuamente.
The Bear de Walter Martin é um desses casos. O seu mais recente álbum a solo (o seu 5º álbum, The World at Night, impressionou-nos) conta com 36 minutos, ao longo dos quais, Martin faz-nos um retrato autobiográfico que tem tanto de candura, como de sinceridade aguda (“When I was a kid I was in a rock ‘n’ roll band, up there on that ratty bandstand, that’s where I learned the only things I know, tonight I heard that old song on the radio, no, but I didn’t recognize my old friends and I didn’t recognize myself”- Easter).
Maioritariamente composto ainda em 2020, The Bear tem uma camada de esperança e simplicidade que, como Martin nos diz, pretende “trazer calor [warmth] e amizade e coisas positivas, num mundo que parece caótico”.
São dez músicas de histórias com pequenas notas autobiográficas, a destacar o single “The Bear”, em que Martin partilha: “Well, I had a dream that I was in a mid-level rock ‘n’ roll band, played every shit-home nightclub across this entire land, when I woke up I was glad to see that I’d left that life behind, but by then I was bald, broke and thirty-nine”.
Martin habituou-nos, ao longo da já extensa carreira a solo (para além de membro fundador dos The Walkmen), à sua voz rouca e melódica, a uma ternura e certa acidez que nos faz acreditar na sinceridade com que canta, sem demais floreados. Acordes simples, sem grandes pretensões, mas cuja sinceridade e confiança transparecem a cada música.
O álbum é um bom exemplo da qualidade de Martin como contador de histórias, que nos faz querer ouvir com a máxima atenção todas as suas vivências e aprender com ele.
Parece-nos que o Walter Martin se finalmente encontrou, para lá do mundo bruto e cru do rock’n’roll, sem nunca nos deixando esquecer que é um trabalho contínuo: “I’m trying to write the perfect song, no, it’s not this one, it’s another one I’ve been trying to write for so long, where I explain so perfectly what it’s like to be and what is so frightening and what my life really means and..” – The Song Is Never Done.
É um bonito álbum de folk em que destacamos as seguintes músicas: “The Bear”, “Diamond Baseballs”, “The Song is Never Done” e “Easter”.
