O disco de estreia a solo do vocalista de TV on the Radio é um trabalho eclético, com vários estilos mas mantendo uma coerência muito interessante.
A voz é conhecida de todos os que navegam na cena indie rock e é inconfundível: Tunde Adebimpe, co-fundador e vocalista dos TV on the Radio, apresentou este ano o seu primeiro disco a solo, Thee Black Boltz, um trabalho bem produzido e eclético.
Este é um trabalho que demorou a ver a luz do dia: foi iniciado em 2019, durante uma pausa da banda, atravessou a pandemia e a perda de familiares (nomeadamente da irmã) e alguns sobressaltos editoriais.
Marcado por um estilo que vai beber muito a TV on the Radio, com tendências synth punk, pop, folk e eletrónica, este é um trabalho cheio de energia e vivacidade.
O disco abre com a faixa-título “Thee Black Boltz”, um texto falado que arranca lento, para depois avançar com mais energia, com temas como o excelente single “Magnetic”, a fazer lembrar “Wolf like Me”, dos TV on the Radio, synth punk com a incontornável voz de Adebimpe a dar uma excelente interpretação.
Avançando no disco, “Pinstack” tem vibes motown e também “Drop” merece uma audição atenta, sendo uma faixa minimalista. Em “ILY” temos um dedilhado na guitarra e a voz mais serena, a ir a falsete, num registo íntimo e quase a piscar o olho à dreampop. E “The Most” mistura ritmo pop com efeitos psicadélicos e até mesmo dancehall.
“God Knows” é mais tranquilo, em registo de balada e “Somebody New” tem potencial para fazer vibrar a pista de dança, com o seu groove disco e sintetizadores, uma festa eufórica de braços no ar. “Streelight Nuevo”, com piano e sintetizadores, fecha o disco com chave de ouro, deixando vontade de regressar ao início.
Este é um trabalho bem conseguido, com um equilíbrio interessante entre a energia, vivacidade e momentos mais intimistas. A fragilidade e a dor transformam-se em dança, em grito, em energia vibrante. Não voltamos a ter a explosão de “Magnetic” mas temos vários estilos e camadas ao longo das 11 músicas e durante os 35 minutos do disco.
E, apesar da multiplicidade de estilos — punk, folk, soul, eletrónica — o disco mantém uma elegante coerência. Vale a pena ouvi-lo com atenção.