O novo disco traz-nos os Thievery Corporation de sempre: competentes, com bom gosto e com um som que dá prazer aos headphones. Mas falta risco, surpresa, no fundo algo que os possa manter relevantes tanto tempo depois do auge.
Com dois óptimos discos, Sounds From the Thievery Hi-Fi (1996) e The Mirror Conspiracy (2000), os Thievery Corporation conseguiram uma coisa feliz e difícil, que foi captar o som dos tempos e, consequentemente, tornar-se porta-estandarte dessa mesma época.
A sua receita, então, era simples mas tremendamente eficaz: sob uma cama electrónica, deitar aí o que se convencionou chamar de lounge music, com ecos de exotica, dub e alguma world music, tudo servido por uma produção exemplar e quase sempre de um gosto imaculado.
Tamanho foi o sucesso que no final dos anos 90 e sobretudo no início da década seguinte fomos esmagados por uma enxurrada de cópias ou derivações desse mesmo som, aquele ambiente de bar fashion em início de noite.
Talvez tenhamos, agora, alguma vergonha de alguma vez termos embarcado nessa aventura, porque o fenómeno trouxe de tudo: o bom, o mau e o terrível (compilações Buda Bar e quejandos). Mas não há motivo para isso. O que fomos é fruto de quem éramos, de onde estávamos e, também, das dúvidas sobre para onde queríamos afinal ir. E, para vergonha, há coisas bem piores do que os Thievery Corporation.
A relevância destes norte-americanos em 2017 é a grande questão. Alguém os quer para alguma coisa? O fresquíssimo disco, The Empire of I & I, não responde totalmente a esta questão. O que se aproxima necessariamente de uma resposta negativa à pergunta formulada.
É que o novo álbum dá-nos aquilo que os Thievery Corporation sempre nos deram, sempre fizeram bem, e deles sempre esperámos. Os mesmos arranjos de bom gosto, a mesma electrónica elegante, a mesma viagem sonora pelo mundo, o reggae/dub estilizado e pronto a consumir pelas orelhas da Europa bem pensante.
A mestria da coisa é tal que este disco é, mais uma vez, um deleite sonoro para os nossos headphones. Mas, depois de tanta cópia, de tantos anos, já não é a mesma coisa a nossa vontade em acreditar que, com este som, até conseguimos parecer cool a beber um cocktail num qualquer rooftop da moda.
A culpa não é deles, e quem gostou dos Thievery Corporation e está com vontade de dar uma voltinha pelo passado não ficará, com certeza, desiludido. Mas falta rasgo, falta surpresa. Falta, no fundo, relevância.