“O coração tem razões que a própria razão desconhece.” — Blaise Pascal.
(Fica bem começar um qualquer texto citando um conhecido filósofo, não acham? Dá logo aquele ar intelectual, de este tipo tem ideias e boas referências, terá seguramente algo de pertinente para dizer. Na verdade não tenho, portanto desengane-se, querido leitor, o que vai ler aqui será de pouca relevância para a sua vida. Se quiser continuar, não pode dizer que não foi avisado.)
Invoco Pascal, e a sua conhecida frase, porque é a única explicação possível para que eu, Alexandre Pires, em 2024, conheça este álbum de cor e salteado, e o ouça com prazer. Não há lógica que valha, não há um racional a que me possa agarrar para justificar esta condição que eu tenho. Recorro portanto ao coração, músculo ligado ao sentimento, que despreocupadamente segue a contrair e bombear sangue, a cada segundo que passa.
White on Blonde foi lançado em 1997 e dos Texas pouco se conhecia no mundo para lá de um êxito fugaz, de seu nome “I Don’t Want a Lover”, lançado oito anos antes. Um hit que se encaixaria bem no meio da popalhada dos eighties, mas já lançado quando vinha aí a mudança de década para tudo mudar. Quem é que iria ouvir os Texas nos anos noventa, com a chegada do rock alternativo ao mainstream? Seriam só mais uma banda one hit wonder e até os escoceses os esqueceriam. E eu nunca estaria aqui a aborrecer-vos com este texto. Mas, eis que passou o grunge, passou o brit pop, e, a partir de 1996, passámos a viver de restos, imersos em montanhas de lixo, a remexer à procura de algo que brilhasse ou estivesse minimamente bom para nos alimentar por um dia que fosse. Depois, para acrescentar mais uma variável à equação, tinha na altura 18 anos, tempos de paixões intensas, alimentadas a horas de audição de música e de encontrar pequenos significados nas letras que absorvia (este fenómeno ainda acontece, afinal de contas é assim que somos agarrados, ao estabelecer paralelismos entre uma canção e as nossas vidas…). Foi nesta envolvente que apareceram os Texas, e White on Blonde.
O quarto disco da banda combina elementos de pop, rock, soul e R&B, e transborda apelo comercial. Canções como “Say What You Want”, um dos maiores sucessos do álbum, teve rotação massiva na MTV, mas será pop muito bem feita ou era o que havia na altura para encher? “Black Eyed Boy”, um exemplo perfeito de mistura de energia e sensibilidade, com uma batida à Motown, não será pastiche demais? “Halo” e “Put Your Arms Around Me” são baladas emocionantes e introspectivas, tipo algodão doce de uma qualquer feira popular? Será “White on Blonde”, que dá título ao álbum, a canção que potencia a principal mais valia da banda, a excelente voz de Sharleen Spiteri?
Vós, seres racionais, que ouçam, analisem e respondam, porque eu não tenho discernimento para responder a isto. Na verdade, nem quero saber a vossa resposta. Porque vou responder a cantar
Yeah, you can say what you want
But it won’t change my mind
I’ll feel the same about you
And you can tell me your reasons
But it won’t change my feelings
I’ll feel the same about you