Reportagens

Super Bock em Stock 2018 – Dia 1

No primeiro dia do Super Bock em Stock, Lisboa aproximou-se ligeiramente do equador numa cornucópia de ritmos tropicais e melodias serpenteantes.

A enchente era impossível de ignorar no primeiro dia do Super Bock em Stock. Por todo o lado, entre o Rossio e a Avenida da Liberdade, centenas de prospectores caminhavam de ou para concertos que prometiam agradar a veteranos do festival, habituados ao calibre da música do festival ou estreantes e fãs mais casuais que querem perceber o burburinho por trás do festival.

Às 19, na Sala Santa Casa, os Conjunto!Evite disparavam em todas as direções o seu rock “progadélico”. A música da banda lisboeta tem todos os ingredientes do melhor rock alternativo feito na capital: riffs pululantes e refrões que cheiram a verão. Uma excelente aposta para abrir o festival. A seguir, chegou a hora de Bejaflor brilhar no concerto que foi sem dúvida a revelação do dia. O Palácio da Independência foi a escolha perfeita para albergar uma mescla tão improvável de estilos. Melodias de teclado escaldantes e harmonias melodramáticas de auto-tune entrelaçam-se num chiaroscuro subtil, com direito a samples de B Fachada e tudo.

Masego

De novo na Sala Santa Casa, os Iguanas tocavam o seu vaporwave tropical para um público agradecido. Lourenço Crespo, apesar de estar com um à vontade muito maior em palco do que em concertos anteriores, ainda não consegue suportar o fardo de ser um vocalista numa banda deste tipo e a reverberação da sala pouco fez para esconder os seus ocasionais desafinos. Ainda assim no meio daquela mescla de beats africanizados e sintetizadores baratos encontram-se verdadeiras pérolas que merecem de facto ser cantadas por toda a gente que as estava a cantar.

Já na Sala Rádio SBSR, The Harpoonist and the Axe Murderer levavam-nos para o delta do Mississipi, o que é estranho tendo em conta que a banda é oriunda de Vancouver no Canadá. O duo, composto por Shawn Hall e Matthew Rogers tocou um set de blues vintage munidos apenas de um conjunto de cordas vocais, uma harmónica, uma guitarra e um bombo. Destaque especial para “Don’t Make ’em Like They Used To” uma canção com um refrão extremamente orelhudo (que nem o público mais tímido resistiu cantar) alicerçada por um riff demoníaco.

Às 23:25 íamos todos de encontro ao mesmo: Masego estava pronto para deitar a casa abaixo. Infelizmente a casa foi o Capitólio, uma sala demasiado pequena para albergar o hype e a voracidade gerada pelo artista jamaicano que podia não ter tocado uma nota e a temperatura da sala subiria à mesma dada a euforia do público. De resto, um concerto irrepreensível de um jovem artista que já tem o público na palma da sua mão. A sua paixão pela sua música, apelidada pelo mesmo de traphouse jazz, é patente na sua entrega em músicas como “Lady Lady”, faixa-título do seu excelente disco, e a colossal “Tadow”, a sua colaboração com FKJ. Esta última é a plataforma perfeita para o músico exibir a sua proficiência no saxofone com solos elásticos que trocam a exploração jazzística por uma dedicação obstinada ao groove.

Capitão Fausto

O dia acabou com o concerto dos Capitão Fausto no Coliseu. O grupo abriu o concerto com um medley das suas canções mais conhecidas, começando com “Verdade” e logo à primeira notamos que algo se passa com Tomás Wallenstein. Uma constipação ou talvez fruto de uma vida dedicada aos palcos, impediu que o vocalista pudesse fazer jus às músicas que tanta gente já conhece de cor. Sem tempo para pensarmos muito nisso a banda transforma a canção na “Célebre Batalha de Formariz” do já antigo Pesar o Sol lançado há quase 5 anos. Com o público, e como não podia deixar de ser, cantaram “Amanhã Tou Melhor”, a sua música mais conhecida e digna de ser tocada no Coliseu. Seguiram-se as surpresas com “Faço as Vontades”, o single de estreia de A Invenção do Dia Claro, ainda por lançar e “Amor da Nossa Vida” que viu Tomás abandonar a guitarra por um teclado, num arranjo minimalista que contou apenas com a guitarra de Manuel Palha e os vocais de um coro feminino. Um bom concerto que não foi melhor dado o estado das cordas vocais do vocalista. Se tudo correr bem, amanhã ‘tá melhor.

O primeiro dia do Super Bock em Stock não desiludiu até o público mais exigente. Se o segundo dia for tão consistente como o primeiro, é com segurança que podemos dizer que este festival se vai manter durante muitos e bons anos.

Fotografia: Inês Silva

 

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