O que é que a Baiana tem? Tem graça, tem ginga e, se for ao som do Seu Jorge, tem baile como ninguém. Ontem à noite, a Super Bock Arena tornou-se num bloco de Carnaval, seis anos depois da última vez que o cantor pisou solo portuense. Desta vez trouxe consigo na bagagem Baile à la Baiana e foi exatamente isso que nos deu: um grande baile.
Confesso que o Seu Jorge foi o primeiro brasileiro a entrar-me no ouvido, ainda quando eu estava em tamanho de amostra de gente. Culpem o meu pai que ligava o rádio bem alto aos sábados de manhã e a devoção quase ritual da minha mãe à “É isso aí”. Desde então sou vítima de um efeito Pavlov: se ouço “música brasileira”, o primeiro nome em que penso é “Seu Jorge” (com a devida vénia à minha homónima Rita Lee). Por isso, sim, as expectativas para este concerto estavam bem altas. E expectativas altas costumam levar a quedas fundas. Felizmente, não foi dia de quedas.
Cinco minutos depois da hora marcada, o primeiro acorde acende o rastilho. Uma rápida troca de luzes e, de repente, ouve-se que seu Jorge está a namorar aquela menina, mas não sabe se ela o namora. O espetáculo teve início com a lendária “Mina do condomínio”, um hit que não falha em colocar imediatamente toda uma plateia em pé. No final da música, o cantor cumprimenta todos e afirma estar feliz por estar de volta.
Seguiu-se com duas músicas do seu tão aclamado álbum de estreia Samba Esporte Fino: “Chega No Suingue”, que teve direito à primeira coreografia da noite ensaiada pela banda, e “Te Queria”, com a primeira guitarra da noite nas mãos de Jorge.
Depois das primeiras três músicas, avisou: “Agora sim! Baile à la Baiana”. A partir daí, o novo álbum tomou conta. “Sim Mais” põe mãos no ar, “Sábado à Noite” e “Batuque” pedem palmas sincronizadas e “Gente Boa Se Atrai” chega em dueto com Peu Meurray e traz manifestações de “mais amor, mais dinheiro no bolso e mais vontade de beber” por parte de Jorge.
De repente, começa um ritmo muito familiar, de outros tempos, uma espécie de regresso ao passado no meio de novidades. Um ritmo que tem nome: “Carolina”. A plateia explode, a banda vem mais para a frente do palco e em coro coletivo cantam “Carol, Carol, Carol”. Entre novidades e memórias, há tempo para revisitar Canções para Churrasco Vol. 1 com “Pessoa Particular”.
Após esta pausa, estávamos de volta ao novo álbum e a eletricidade aumenta, literalmente. “Shock”, a mais viral do novo disco é dançada com gestos de múltiplas faíscas no ar. O cantor é acompanhado por Magary Lord que se mantém em palco para cantarem “Lasqueira”, que fecha o capítulo de Baile à la Baiana da noite.
As luzes baixam. Ficam em palco apenas Seu Jorge e o baixista. É o momento intimista de “Quem Não Quer Sou Eu”, renascida há uns tempos graças a um remix de funk que correu rádios portuguesas. A seguir, a banda Conjuntão Pesadão mostra serviço com solos de quase todos os instrumentos, aos quais o artista deu mote com um solo de flauta transversal
Jorge sai, mas volta de cigarro na boca e guitarra acústica ao colo. É hora da mítica “É Isso Aí” e as lanternas no ar transformam o pavilhão num mar de luz. No teto, são projetadas flores e, na plateia, abraços e lagrimas. Quase no final da música, Jorge levanta-se e encara a plateia, como em tom de promessa de que nunca vai parar de a olhar. De forma a aproveitar a presença da guitarra acústica, que também já estava acompanhada pelo cavaquinho de Pretinho da Serrinha, chegou o momento da “Tive Razão”.
Nos concertos de Seu Jorge há sempre espaço para homenagens: “Life on Mars?”, (David Bowie, versão portuguesa), “Everybody Loves the Sunshine” (Roy Ayers), “Chega de Saudade” (Tom Jobim) e “Na Rua, na Chuva, na Fazenda” (Hyldon). Antes do encore ainda houve tempo para “Alma de Guerreiro.
O final da noite estava perto mas claro que ainda houve tempo para cumprir a tradição que manda fingir que o concerto acaba, mas depois todos voltam. E que volta foi! “Felicidade” foi um ótimo aquecimento para “Amiga da Minha Mulher” e “Burguesinha”, temas em que nem se ouvia a voz do artista com tanta vontade por parte do público. Para golpe final, um presente inesperado: “Mas Que Nada” (Jorge Ben Jor), numa versão ainda mais acelerada. Num pavilhão com capacidade para 8500 pessoas, era possível contar pelos dedos quem não estava de pé, a abanar os braços.
Dão-se vénias, abraços e agradecimentos. O baile termina, mas uma sensação mantém-se: formou-se uma família temporária lá dentro. E a prova disso está nos sorrisos que abandonaram a Super Bock Arena. Daqueles sorrisos que só a música e uma presença com a de Seu Jorge sabem dar.
Texto: Rita Matos Braga | Fotos: André Gomes
















