Era o último concerto da digressão europeia das Warpaint e era em Lisboa que ia acontecer. Chovia sem parar pelo segundo dia consecutivo e o quarteto de raparigas californianas voltou a fazer das suas com o público português.
Pluviosidade feita notas musicais e luzes frias, “Intro” abriu demoradamente o concerto com o fresquíssimo Warpaint. Melosas e misteriosas, seguiam o alinhamento do álbum homónimo com “Keep It Healthy” e abriam caminho para “Hi”: “up all night” seria o que elas nos fariam ficar. Theresa Wayman, a teclista e guitarrista que partilhava as obrigações de vocalista com Emily Kokal, cantava um trip-hop ritmado e cavernoso que se fazia sentir pouco, devido à existência de cadeiras que impediam a dança que tudo pedia.
Nem de propósito, “Composure” provocava o público e levantava os primeiros resistentes do lugar, enquanto Kokal assumia de novo o papel de vocalista. A passagem sem pausas entre as músicas fazia tudo parecer uma ópera-rock, com o seu próprio libretto. Imediatamente antes de “Feeling Alright”, era feito o primeiro contacto directo com o público, com Wayman a apelar ao público que se levantasse das cadeiras, ainda que, estando sentado, gostasse dele. Era a certeza que o público precisava para se levantar definitivamente e com o baixo frenético de “Love Is To Die” a pista de dança foi inaugurada.
Com o regresso a The Fool com “Undertow”, o êxtase do público era reafirmado e confirmado, enquanto que as canções eram alargadas e abriam espaço para curtas (mas boas) jams que provocavam gritos e delírio geral. “I think we’re feeling it”, a banda estava em sintonia. “No Way Out”, inédito que não entrou no novo álbum, trouxe à Aula Magna uma onda diferente da Warpaint. Uma composição quase-rock progressivo, cheia de ritmos e fases diferentes, que abria a parte mais variada e experimental da noite.
“Billie Holiday” era introduzida pela amena cavaqueira das simpáticas moças de Los Angeles e trazia com ela uma polifonia delicodoce e arrepiante, em que as iniciais dos dois nomes da rainha do jazz eram repetidas sem fim. “Drive” invadia o palco e a sala de uma ambiência melancólica e azul, através das luzes e da voz cristalina de Emily Kokal. “Disco//Very” anunciava o fim em beleza, com uma sensualidade implacável e inigualável em que todos deixávamos ser tomados pela garra do grupo feminino.
Saídas do palco e obrigadas a voltar por uma plateia insatisfeita com a pouca duração do concerto e incapaz de se despedir sem dor das meninas bonitas e queridas da pop alternativa, as Warpaint regressavam com o passado na mala. A solo em palco, a vocalista tocou “Baby” com uma perfeição exímia (desculpem a ligeira redundância). Chamando as amigas para “Bees”, introduzida por uma jam quase-funk e finalizando com um quase-dubstep, o concerto acabava por fim com a electrizante “Elephants”, que surpreendeu todos com uma energia fora-deste-mundo.
Foi o último concerto da digressão europeia das Warpaint e foi em Lisboa que aconteceu. Chovia sem parar pelo segundo dia consecutivo e o quarteto de raparigas californianas voltou a conquistar almas e corações, abrindo uma pequena aberta para a chuva que se fazia sentir lá fora.
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(Fotos: Hugo Amaral)