29 Novembro
Balanço extremamente positivo da primeira noite do Vodafone Mexefest, que juntou 27 bandas, distribuídas por 14 espaços situados no coração de Lisboa. E como sempre acontece neste festival lisboeta que privilegia nomes nacionais e estrangeiros em ascenção, os espectadores tiveram de fazer escolhas, deixando de lado algumas bandas de peso. De facto, a oferta era de boa qualidade…
O autor destas linhas assistiu na íntegra a três concertos e confesso que fiquei extremamente satisfeito com a escolha efectuada. O melhor a que assisti foi o de Woodkid, projecto do músico francês Yoann Lemoine, que esteve muito bem acompanhado em palco por sete elementos.
As indicações dadas pela Música no Coração eram de que o concerto iria durar uma hora, mas fomos brindados com meia-hora extra, perante um Coliseu dos Recreios a abarrotar pelas costuras e que ficou rendido à fantástica actuação desta banda, com o seu som grandioso e dramático, um fantástico efeito de luzes e imagens projectadas numa tela gigante.
Ou muito me engano ou começou a escrever-se uma história de amor entre Woodkid e o público português e daqui a uns anos, os que tiveram a felicidade de assistir a esta magnífica “perfomance” irão recordar que estiveram presentes na estreia da banda no nosso país.
Quem não estava preparado para uma recepção tão acolhedora era Yoann Lemoine e os seus comparsas: eles olhavam uns para os outros com caras de espanto, ao mesmo tempo que as canções eram entoadas pelo público.
Para além das músicas de “The Golden Age” – “Run, Boy, Run”, “The Golden Age” e “I Love You” levaram o público ao delírio – Woodkid revelou algumas novas canções e prometeu voltar em breve a Portugal. E depois da simbiose a que se assistiu entre a audiência e a banda, aposto que até ao próximo verão eles estarão por aí de novo…
Antes dos Woodkid, foram as Savages a actuar na mítica sala de espectáculos da capital, embora com cerca de um quarto do público que aclamou Woodkid. Mas foi um concerto igualmente com grandes momentos, embora com algumas quebras. As quatro meninas, todas vestidas de preto e representantes do revivalismo pós-punk – a vocalista Jenhny Bett, que é francesa, surgiu impecável, de salto alto – deram um espectáculo muito competente. Destaque para a voz poderossíma de Jehny e para a baterista Fay Milton, que se não adora o que faz, pelo menos disfarça muito bem…
A banda, que tem apenas dois anos de existência, agarrou o público desde os primeiros acordes e conseguiu uma hora de rock puro e duro, com as canções do seu único disco, “Silence Yourself”, a serem muito bem recebidas.
Os Wavves também estiveram em grande, mas na Sala Super Bock Super Rock do Ateneu Comercial de Lisboa, um recinto bem mais pequeno. As coisas até começaram tortas, com um microfone a não funcionar, mas os norte-americanos estavam lá para divertir a audiência e logo esse facto foi ultrapassado.
Os quatro membros dos Wavves, que parecia terem acabado de apanhar umas ondas na Ericeira, trouxeram na bagagem o seu surf rock, que levou ao delírio as primeiras filas, que se entretinham em “moshes” uns atrás dos outros. O magnífico “King of The Beach” foi um dos pontos altos da noite, com o público, provavelmente já com saudases do verão, a gritar a plenos pulmões “Let the sun burn my eyes let ir burn my back let it sear through my tights I’ll feel wide wide open”, isto enquanto fora da sala, os termómetros marcavam uns “míseros” 7 graus.
O vocalista Natahn Williams, que já confessou publicamente o seu vício por álcool, entreteu-se a beber Whisky durante boa parte do concerto (antes confessou-se desiludido com a qualidade da cocaína que comprou poucas horas antes, em Lisboa) mas desta vez, não arranjou confusões com o público. Recorde-se que numa célebre passagem pelo festival Primavera Sound, em Barcelona, insultou a audiência, que respondeu com o lançamento de vários objectos, obrigando ao fim do concerto.
Nesta primeira noite, há apenas a lamentar a longa espera de centenas de pessoas, que procuravam trocar o seu bilhete por uma pulseira, no Cinema São Jorge. O número de funcionários da organização era manifestamente insuficiente, o que levou a que muitos perdessem alguns concertos. Uma situação a rever e que certamente será corrigida na edição do próximo ano.
30 de Novembro
Num segundo dia de Vodafone Mexefest com sonoridades mais calmas do que sexta-feira, os portugueses Lazy Faithful contrastaram, abrindo as hostilidades com rock puro e duro, animando aqueles que foram chegando à Sala Super Bock Super Rock, no Ateneu Comercial de Lisboa.
Esta banda portuense, cujo som conheci há pouco mais de uma semana e me despertou grande curiosidade para os ver ao vivo, merece ser ouvida. Prestes a lançar o seu primeiro álbum, Easy Target, já no próximo mês de janeiro, mostraram enorme energia em palco, contagiando os presentes, que gradualmente foram aderindo, entrando na festa. Uma banda a rever nos próximos tempos, pois potencial não lhe falta.
Os Daughter eram dos nomes mais esperados neste segundo dia e no único concerto do dia no Coliseu – com exceção do som mais dançável do projeto D.I.S.C.O. Texas, que fez a festa entre as 23h00 e as 04h00 – não desiludiram os seus fãs. De resto, a plateia já estava conquistada desde o início, para grande surpresa da vocalista Elena Tonra, aparentemente estupefacta com a reação do público, que entoava as canções do álbum “If You Leave” a alto e bom som.
E quem ouve a delicadeza das canções do disco, não supõe a transformação que alguns dos temas ganham ao vivo, mostrando um lado mais selvagem da cantora. Foi uma hora muito bem passada, com muitos elogios ao público e a Portugal pelo meio.
Quem começou por não ter grandes motivos para sorrir foi Silva. A sua atuação, prevista para as 22h25, na Estação Vodafone FM, sofreu um ligeiro atraso, devido a problemas técnicos. No entanto, o brasileiro deu a volta à situação e deixou um rasto de simpatia, no seu registo calmo e sereno.
Na antecâmera do lançamento do álbum “True”, o nosso velho conhecido Legendary Tigerman brindou-nos com a sua habitual competência e profissionalismo, realçando-se a subida ao palco de Rita Redshoes, que interpretou uma das novas canções do “One Man Show” de Coimbra.
Na parte final do concerto, os espectadores lavantaram-se das cadeiras da Sala Manuel de Oliveira, no Cinema São Jorge e aproximaram-se de Tigerman, com o concerto a terminar num clima de enorme festa.
Concluída mais uma edição do Vodafone Mexefest com assinalável êxito, as nossas últimas palavras vão para a Vodafone FM (107.2 Lisboa, 94.3 Porto e agora também em Coimbra, em 103.0): obrigado por nos continuarem a proporcionar o melhor da música nova!
(Fotos: Hugo Amaral)