“Isolation can put a gun in your hand”, foi com “From The Sun” que começou o concerto solarengo da banda de Ruban Nielson (voz e guitarra), Jacob Portrait (baixo) e Riley Geare (bateria). Mas nem a banda está isolada, muito pelo contrário a Casa da Música apresentou a sua sala principal cheia de espectadores de variadas idades, nem Ruban Nielson tem uma arma na mão, tem antes a sua fulgurante guitarra Fender Jag-Stang vermelha e branca colocada muito subida, junto à axila direita, apontando e disparando notas de música e sons na direcção do público, numa atitude de guerrilha sonora. Os temas melodiosos e tão trauteáveis continuaram com “The Opposite of Afternoon” também do álbum II e seguiram caminho com três músicas do disco homónimo, “Thought Ballune”, “How Can You Luv Me” e “Strangers Are Strange”.
Num conceito de noite de música próximo do Mexefest em Lisboa (e a ocorrer ao mesmo tempo que o evento da capital), com dj’s e concertos em vários espaços no interior algo labiríntico do edifício, com movimentações de pessoas em diferentes percursos de escadas, corredores e bares, escutou-se na sala Suggia um alinhamento de 12 temas e apenas um encore em que o trio desfilou as suas canções repletas de melodia e psicadelismo durante cerca de uma hora e vinte minutos. O concerto teve início com o som a estar um pouco longe da qualidade mínima exigível mas ao terceiro tema o som deixou de estar empastelado e ficou bom com os acertos operados. Ao longo do espectáculo Nielson usou e abusou de solos de guitarra magníficos e usou da palavra para lançar uns quantos “Obrigado!” num sotaque quase perfeito, revelando que o grupo já não é virgem em território nacional, depois da passagem recente por Paredes de Coura este Verão. A sintonia e empatia com o público foi notória e nem o facto de a sala ter uma plateia maioritariamente sentada impediu que nas laterais e em frente ao palco se juntassem pessoas de pé, a dançar e a abanar a cabeça ao som dos riffs de grandes canções, de energia contagiante, como na sequência “Monki”, “No Need For A Leader” e “Nerve Damage!”, fazendo uma ponte e equilíbrio perfeitos entre o primeiro disco mais roqueiro e o segundo álbum mais soul e pop. As canções “Ffunny Ffrends” e a icónica “So Good At Beeing In Trouble” (na pole position para melhor canção do ano), colocaram a cereja no topo do bolo antes do encore que nos brindou com o momento mais belo da noite ao som acústico de “Swim and Sleep (Like A Shark)”, o palco apenas com Nielson e uma guitarra clássica na mão. Electrificando a despedida, esta deu-se com “Boy Witch” e mais solos de guitarra inspiradíssimos do discreto mestre de cerimónias neo-zelandês, revelando a sua mestria e genialidade na composição e execução de todas as canções da banda, com os músicos a saírem de palco sob uma tremenda chuva de aplausos. Assistir a um concerto fabuloso como este, mesmo antes do ano terminar foi um verdadeiro privilégio.
De referir também a boa primeira parte da banda de culto britânica Archie Bronson Outfit com o seu agreste rock de garagem minimal, cujo trio aqueceu bem as hostes antes dos protagonistas da noite. Após os concertos o destaque foi por inteiro para as remisturas deep house e techno de Neonlogic, perto da zona dos bares.