
Há vários anos que venho, sem falta, ao Primavera Sound de Barcelona. É raro que um dia neste festival não proporcione qualquer coisa mágica e inesquecível. É frequente encontrar música excepcional, das expectativas às descobertas. A quantidade de bandas boas que se ouvem de seguida, aliada ao espírito estival, à muita gente bonita que se passeia pelos recintos e ao conforto da boa organização, dá uma sensação duradoura de satisfação interior. Sabe bem. Aqui, o contexto é muito importante e redefine aquilo que se ouve.
Serve este artigo para iniciar a crónica deste ano, e não para chegar a algum tipo de conclusão. Seria demasiado cedo para isso. Mas existe um factor que, imediatamente, condiciona aquele que costuma ser um dia incrível no festival, este dia zero (aquele que vem antes dos três principais): choveu torrencialmente durante o dia. Portanto, este dia zero não foi o que costuma ser.
Temples (palco ATP): O hype que se gerou ao longo dos últimos meses ainda não tem uma banda suficientemente consolidada que o suporte, longe de actuações sublimes e de espectáculos espantosos. Foram competentes, mas é justo dizer que mais de metade do alinhamento foi bastante afectado pela chuva crescente.
Stromae (palco ATP): Concerto atrasado enquanto as chuvas torrenciais se sentiam. Este fenómeno da Bélgica levou milhares de francófonos ao Primavera – o que não faz grande sentido, mas é a Europa que temos. A presença de palco do cantor belga é original e surpreendente. Infelizmente, e não é que as canções sejam más em termos melódicos, os arranjos são insuportáveis e de um azeite imenso. Menos David Guetta, por favor.
Sky Ferreira (palco ATP): Sky Ferreira é puro talento. Com dois EPs e um álbum, ainda não terá um lote de canções perfeito e a actuação foi profissional. Mas o poder de interpretação da Sky está sempre lá e é imenso. O alinhamento incluiu as excelentes “24 Hours”, “Boys”, “Omanko” (interrompida por problemas técnicos), “You’re Not the One” e a inacreditavelmente boa “I Blame Myself”, tendo acabado com “Everything is Embarrassing”. Recomenda-se que se vá prestando atenção e vendo ao vivo sempre que possível.
Har Mar Superstar (sala Apolo): O mundo não tem prestado atenção suficiente a Sean Tillmann. Har Mar foi perdendo fulgor mediático desde o início dos anos 2000 e quase ficou para a história como uma caricatura. Contudo, depois de Sean ter começado a actuar como comediante de stand-up, ressurgiu. E fê-lo com ainda mais força com o início do podcast de comédia Nocturnal Emotions e o álbum Bye Bye 17, de 2013 – ambos excelentes. Mesmo assim, não esteve muita gente nesta actuação no Apolo, que se baseou principalmente na soul. Canções como “Lady, You Shot Me”, “www” e “Tall Boy” foram executadas de forma soberba. Um grande concerto, que foi finalizado com Sean Tillmann a solo na guitarra, já de tronco nu, a interpretar uma canção de Sam Cooke.
Infelizmente, não foi possível ver os concertos em todos os recintos, como no BARTS, com The Ex, Shellac e PAUS, the Brian Jonestown Massacre no Apolo e as propostas da editora La Castanya na sala 2 do Apolo, que incluíam Aries, Beach Beach e Me and the Bees.
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(Fotos cedidas por Dani Canto)