
No passado dia 18 de Novembro, subiu ao palco da ZDB o sexteto de Norberto Lobo e João Lobo, ensemble que pode ser ouvido no álbum Oba Loba, editado no início do ano. Por entre guitarras eléctricas e acústicas, baixos eléctricos, tarolas, pratos, bombos, clarinetes, saxofones, violinos, trompetes, Fender Rhodes, moduladores, vozes, maracas, pífaros, reco-recos e guizos, assistiu-se a um concerto que fez as delícias dos ouvintes que se deslocaram à tão emblemática sala.
Quando o concerto começa parece não haver forma. Nem sequer há bem a certeza se haverá canções. Cada músico parece tocar para si, sem irmandade, sem coesão, num improviso total. Não existe uma melodia certa e os tempos não lembrariam nem a Fripp (ou a Deus, como preferirem). Mas, quando os instrumentos deixam de ser analisados individualmente, torna-se possível percepcionar uma textura musical una, construída a partir da individualidade de cada um dos instrumentistas em palco. A partir do caos individualista surge uma harmonia colectiva.
Vindos do palco podem-se ouvir solos de piano, guitarra, bateria e baixo, a servirem de interlúdios entre as peças. Lynn Cassiers ajuda a criar uma atmosfera com a sua electrónica, percursão e com a modulação da sua voz, sempre em pano de fundo, nunca como instrumento principal. Quando chega a vez de Jordi Grognard tocar o seu solo no clarinete, parece que somos projectados para um novo capítulo de Pedro e o Lobo de Sergei Prokofiev. Giovanni Di Domenico brilha subtilmente por detrás das suas teclas, usando e abusando dos avanços electrónicos a nível musical. Ananta Roosens, tanto no trompete como no violino, traz elementos clássicos e vibrantes para as peças tocadas, deixando sempre espaço para a experimentação alheia. Norberto Lobo homenageia Lou Reed, reproduzindo a linha de baixo de “Walk on the Wild Side” e referencia o seu trabalho a solo, quando pega na guitarra acústica, mas nunca deixando de fora por muito tempo a experimentação. João Lobo utiliza a sua abordagem dinâmica para manter a banda coesa, alternando o papel de “líder de banda” com o guitarrista.
Alguém decidiu que tudo tem de ter um fim, até concertos como este. Pouco mais de hora volvida e o sexteto de João Lobo e Norberto Lobo abandonou a sala. A noite não ficou nem mais quente nem mais clara. A noite ficou na mesma. Mas noites com concertos assim parecem ter sempre um final mais feliz.
Fotos gentilmente cedidas por Vera Marmelo