Há algo que me chama sempre nas Warpaint. Não sei se é a voz constantemente a pedir socorro do fundo de um poço, se são as melodias minuciosamente construídas e as camadas de instrumentos todas muito bem compassadas. Sei que apesar de diferente de The Fool, álbum de estreia de 2010, o novo e homónimo disco consegue perder algumas das particularidades do primeiro e ainda assim elevar a fasquia.
Com a ajuda de mãos que já pegaram em nomes como Radiohead, Sigur Rós ou PJ Harvey, as quatro californianas tomam de assalto os ouvidos do mundo com um conjunto de doze fortes canções bastante influenciadas pelo hip-hop. Diria até pelo trip-hop, mas não me quero afundar na minha ignorância.
Antecedida pela “Intro” que anuncia um disco mais seguro e soturno, a segunda faixa mostra que aquilo a que as Warpaint nos habituaram não desapareceu: os contratempos e jogos de guitarra/baixo/bateria não só continuam lá como assumem uma faceta mais negra e obscura que o primeiro longa-duração. Em “Love Is To Die”, single que já havia sido divulgado no final de Outubro, há um combate de notas agudas e graves que o baixo vai exercendo, junto com uma bateria bem decidida e definida. O baixo mantém-se trémulo até ao final da música, espelhando a dualidade expressa na letra: “Love is to die/Love is to not die/Love is to dance”, cantado em jeito de lamúria ou desabafo.
Feitas as introduções, é aqui que o disco começa a aquecer e a mostrar vida própria e independente. Sente-se hip-hop lá atrás, nas batidas e baixo e nas guitarras-quase-sample. Ouve-se ecos da negrura de projectos recentes como Esben & the Witch. Ouve-se Cocteau Twins. Ouve-se Portishead e Massive Attack. “Teese”, canção que recebe o alívio de uma guitarra acústica, chega a parecer Radiohead (numa “Climbing Up The Walls”). Ouve-se estranheza, ouve-se escuridão. Ouve-se harmonias de vozes de outro planeta, já características do quarteto norte-americano. Mais à frente ainda, há The xx na guitarra e no baixo. Há sensualidade numa “Disco//Very” que nos faz imaginar um quarteto de mulheres emancipadas a abanar as ancas num qualquer anúncio de moda.
Resumidamente, do início ao fim, há apenas um ou dois pontos menos altos que nos fazem perder um bocadinho o fio à meada, mas nada que o todo não faça esquecer. A espera compensou e, ao fim de mais de três anos passados depois do primeiro álbum sair, as Warpaint apresentam-se fiéis ao que têm sido, ainda que renovadas. No dia 1 de Março, cá as esperamos na Aula Magna para um concerto que garantidamente estará ao nível do trabalho de estúdio com que já nos brindaram.