Sala escura, um banco, uma guitarra eléctrica e Matthew E. White, cabeludo, barba comprida e os seus óculos redondos que lhe dão o ar mais simpático do mundo. Sentou-se, pronto para começar. O resto éramos nós, a casa não estava cheia mas o ambiente também não pedia uma multidão. “É bom estar aqui”- começou assim.
A voz rouca e forte e as notas cruas e altas da guitarra deram a sensação que estávamos numa garagem de amigos, depois de um jantarada, onde se pega na guitarra, copo de vinho no chão, e alterna-se entre música e confidências. O concerto de Matthew E. White foi assim.
“Esta é a minha primeira vez a solo, adoro! Posso fazer o que eu quiser”- disse e não desiludiu. Matthew alternou entre Big Inner, o seu primeiro álbum e o EP Outer Face, sem ordem certa – onde “Hot Hot Hot” e “In the Valley” balançaram entre o folk e o jazz, e “One Of These Days” e “Steady Pace” voltaram cheios de soul. Matthew navegou por aqui, sem efeitos nem floreados, brilhou com a voz e acompanhou com a guitarra.
Matthew começou em Lisboa, recordou 2006 e fez-nos sorrir ao falar de Clean Feed, uma das mais importantes editoras de jazz portuguesa, que “sem ela, se calhar não estava aqui”- irónico, é que até agora, Matthew nunca cá tinha vindo. Palmas, gargalhadas, e assobios foram o interlúdio para “Hot Toddies”. Nós continuávamos calmos, os movimentos de dança foram substituídos, durante o concerto, pela concentração – no palco só havia Matthew e sem distracções, ouvíamo-lo.
A simpatia que dou a Matthew ele mostrou-me através da música que tocou e com a conversa “entre amigos” que fez os intervalos das musicas serem animados. Cantou “Sail Away”, de Randy Newman, confessando a sua tentativa falhada de, aos 24 anos, tentar conhece-lo, mas ficou-se pela porta de entrada. Nós, por sua vez, ensinámos-lhe a palavra “bagaço”.
Iniciou as despedidas com amor ao cantar “Will You Love Me”, um tributo a Martin Luther King e enquanto terminava com “Big Love”, com um refrão que faz ensinar à malta o que é saber cantar, ficava a ideia que não fomos ao Musicbox ver o Matthew E. White mas sim ouvi-lo (como quem ouve com ouvidos e não com os olhos). E soube bem.
“Pronto.. estas são as únicas músicas que sei tocar com a guitarra eléctrica” diz Matthew a despedir-se. Põe fim a um serão bem passado com um concerto que nos aqueceu para contrastar com a chuva de Abril. Levantou-se, agradeceu, e nós batemos palmas.
Quando souberes tocar mais umas, volta a Portugal!
[wzslider lightbox=”true”]
(Fotos: Francisco Fidalgo)