Um ano, três meses e doze dias. Foi o tempo que Jacco Gardner esteve sem dar um concerto em Lisboa. Ainda assim, tanto ele como o público pareciam não se ver há décadas. No palco, o holandês sorria e sorria, manifestava as saudades que tinha da capital portuguesa e os gritos e palmas da plateia respondiam-lhe em igual medida.
Canções, ouvimo-las todas. De “Clear The Air” (do primeiro disco) a “Find Yourself” (do novo Hypnophobia), não faltaram os singles obrigatórios, as baladas acústicas e as jams bem engendradas que já nos tinha mostrado no ano passado. De facto, é em palco que as trovas de Gardner mais brilham: com um som cheio e unido, em palco, os arranjos libertam-se da simplicidade e da limpeza sónica, dando lugar ao improviso, ao improvável, ao fantástico, ao inesperado (solos de guitarra!) e a todas aquelas criaturas mágicas que acompanham o imaginário de Jacco Gardner. No encore, tivemos ainda direito a uma versão da banda The Skywalkers, à qual o próprio Jacco pertenceu e onde as suas primeiras raízes Barrettianas se começaram a desenvolver.
Mas, ao contrário de há um ano, não houve o combustível da viagem proporcionado por filmes surrealistas do século XX (pela brincadeira do artista com o facto, pareceu falha técnica). Ao contrário de há um ano, ainda que mais robustas, as canções não soaram tanto a magia. Talvez porque o cancioneiro Gardneriano não prima pela sonoridade variada, ainda que apelativa aos ouvidos e às sensações. Ainda assim, o holandês voador não falhou naquilo que esperávamos: um espectáculo conciso, fiel ao disco e com dois ou três acrescentos aqui e acoli que fizeram resplandecer as canções – tempestades sonoras que iniciavam ou terminavam algumas das canções, improvisos e solos que contribuíram pra estampar na memória o momento Kodak de sábado.
Fotos: Sofia Mascate