Intenso, vibrante, destrutivo, avassalador, são alguns dos adjectivos que me vêm à cabeça quando penso no(s) concerto(s) desta quinta-feira na ZDB. Esta mítica sala há muito nos habituou a ver (e ouvir) projectos verdadeiramente interessantes, e a passada quinta feira não foi excepção. Em pleno Halloween, dia das bruxas, véspera de dia dos finados a ZDB recebeu duas unidades de destruição massiva. Cangarra & Canzana a abrir e Destruction Unit a finalizar.
Com uma plateia ainda a meio gás, os Cangarra, dupla formada por Ricardo Martins e Cláudio Fernandes acompanhados pelos Canzana, constituídos por Pedro Sousa (Oto, Pão) improvisador Sax e Bruno Silva (Somália) na guitarra acabaram por ter tanto ou mais protagonismo que o nome principal da noite. Foram cerca de 45 minutos de improviso (?) que deixou muita gente extasiada com o barulho bom que debitava das colunas da ZDB. Sem uma linha direccional, um refrão, um verso, vozes – a dupla de bandas mais parecia um conjunto de Free-Jazz do Inferno tal eram os decíbeis que começavam a fazer saltar alguns dos parafusos do edifício da ZDB enquanto lá fora transeuntes vestidos à Halloween faziam as mais variadas caretas ao olhar para o “espéctaculo” que se passava dentro do aquário. Aliás, a ZDB nunca precisará de um projector para passar imagens ou vídeos quando tem estes vidros gigantes que passam a vida exterior, que faz parte do próprio evento, tal é o número de pessoas que vai à janela com as mais variadas expressões. Enquanto isso Cangarra & Canzana terminavam o seu set e a ideia que fica é que nem sequer precisámos de ouvir mais nada naquele dia de tão bom que tinha sido o concerto. Pujante, cru, diabólico, honesto.
Mas se os meus ouvidos já se queixam o pior estava para vir. O set de Destruction Unit só durou, incrivelmente, 25 minutos, mas o suficiente para não deixar viv’alma indiferente. Ao contrário de Cangarra & Canzana, os D.U. não improvisaram mas quase que não se notava a passagem entre músicas o que fazia parecer uma amálgama de fuzz-space-rock a rebentar o resto do edifício da ZDB que duvido que aguente até domingo, data do concerto de Acid Mothers Temple a tocar Paranoid dos Black Sabbath que promete mandar o resto do prédio abaixo. Mas futurologias à parte o que importa dizer é que o concerto dos D.U. embora curto foi de uma intensidade tremenda. Eles que vinham a Lisboa apresentar o seu mais recente trabalho, Deep Trip, um dos discos do ano, pelo menos no género em que estão inseridos. E que género é este de Fuzz-Punk-Space-Rock? A banda mais próxima que podemos relacionar será os Hawkwind. Um “fritanço bom” como alguém já referiu. Uma parede de som onde a própria voz funciona como mais um instrumento de distorção e transforma-se numa onda vibrante que levou a pequena sala da ZDB ao rubro, pelo menos em termos sónicos. Um concerto curto mas que chegou perfeitamente pela experiência e, felizmente, para os meus ouvidos que só nestas duas horas perderam cerca de 30% de audição permanente. Domingo há mais!
Fotos: Francisco Fidalgo