
Começou com «Ahhhhh» o concerto de Bruno Pernadas no CCB, na noite fria de 5 de Fevereiro. Um grande Ahhhhh exclamativo de força divina mas também de alívio reconfortante de quem aguardava há muito poder ver e ouvir o excelente How can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge ao vivo.
O alívio não era para menos. Conta-se pelos dedos de apenas uma mão as vezes que Pernadas se apresentou em nome próprio para tocar ao vivo um dos melhores discos de 2014. Estas oportunidades não se podem perder. Uma das vezes foi no Teatro Maria Matos Abril passado. E se nessa data o concerto foi uma transposição sem «espinhas nem grainhas» do álbum, este concerto no C.C.B. já contou com algumas diferenças.
Pernadas permitiu-se movimentar por vários novos arranjos em algumas das suas canções, como por exemplo em «How Would It Be 1» e tocou ainda material novo, que nos deixa a salivar por novo disco.
Bruno Pernadas apresentou-se em palco, sempre tímido, acompanhado pelos seus amigos do costume: Francisca Cortesão (Minta e They’re Heading West), João Correia (TAPEJUNk e Julie & The Carjackers), Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), Margarida Campelo (Julie & The Carjackers), Nuno Lucas (TAPEJUNk) e ainda João Capinha, Diogo Duque e Raimundo Semedo nos sopros. É maravilhoso ver como estes músicos se serpenteiam por estes projectos todos e como acrescentam os seus cunhos a cada um deles. E é um regalo ver, por exemplo João Correia, no seu estilo delicado e também desengonçado na bateria, qual boneco de Rua Sésamo, ou ouvir a voz angelical de Margarida Campelo. Em ponto altíssimo foi também ouvir a voz lindíssima e metalizada de Afonso Cabral, nomeadamente na extraordinária «Premiére».
Mas aqui o Maestro é Pernadas. É ele quem lidera e quem organiza. Passa grande parte do concerto de costas para o público para estar virado para os seus companheiros, como se em estúdio estivessem. Mas fá-lo também para esconder a sua timidez. Percebemos quando diz que nunca pensou que as suas músicas fossem tocadas assim, em concerto. Mas esta timidez não condiz com o encantamento que as suas canções nos transmitem. Notamos que o público, nós incluídos, queria mostrar ao compositor que acolheu o seu trabalho, através das palmas, mas nem houve muito espaço para isso, pois o alinhamento do concerto, em que as músicas se fundiam umas nas outras, não o permitia. Mas no fim acabou por se fazer alguma justiça com uma mais que merecida ovação de pé ao grande concerto que ali aconteceu. E fomos então bafejados com «Galaxy», nova música de Bruno Pernadas, do mesmo calibre que as do seu disco de estreia, e com alguns ares de St. Tropez. Pelo menos foi até aí que me levou a mim.
(Fotos: Francisco Fidalgo)