Tenho inveja de quem pensa que há sentidos ou desígnios, onde as linhas do bem e do mal estão bem traçadas. Será que vivemos num lugar onde os actos estão a ser supervisionados por um ser omnipotente e omnipresente, infinitamente bom e justo, feito à nossa imagem?
Não sei. A artista norte-americana Julien Baker acha que há, e cantou toda a sua fé no seu disco de estreia Sprained Ankle. A sétima faixa, “Rejoice”, fala sobre o regozijo da certeza que existe “um deus que nos ouça”.
Será que deus aplaude a homossexualidade de Baker? Em Memphis, Tenessee, onde cresceu e viveu com os pais sob um ambiente protestante ultraconservador, Baker foi ostracizada. Contudo, encontrou lugar em igrejas progressistas, que aceitavam Baker sem desdém pela homossexualidade.
Não conheço a tabela de valores de deus. Entre tradições e escrituras, monoteísmos e politeísmos, perco-me e relembro-me de todos os motivos pelo qual estou cada vez mais céptico quanto à fé.
Contudo, através da guitarra reverberada e da sua doce voz, a oração de Julien Baker – “Rejoice” – é das mais belas que há. É difícil ouvir isto e não acreditar.
É tão difícil ser ateu como é ser cristão. A verdade é que, se o cristianismo estiver certo quanto à fornicação, eu e Julien Baker seremos lançados para o fogo do Inferno. Mas se a misericórdia de deus for infinita, tal como prometem as escrituras (baseio-me em traduções feitas do francês para o português, não sei ler aramaico e não tenho contexto histórico suficiente), então vai correr tudo bem. Quer dizer, acho eu. Sei lá.