Dois anos após a estreia nos discos, eis que surge The Seduction of Kansas, difícil segundo álbum dos Priests.
Foi com estrondo que recebemos Nothing Feels Natural em Janeiro de 2017. Trump estava a assumir a presidência lá da América por esses dias e uma banda nascida e criada em Washington DC em pura contra corrente cativou a atenção por várias razões. Entre elas contavam-se a argúcia das palavras, pensadas e que fazem pensar, desafiadoras do sistema capitalista vigente, contundentes; a opção pelo do it yourself, punk no seu âmago, propiciadora de alternativa às editoras corporativas; a sonoridade ampla e diversa, juntando aos riffs um excelente groove e laivos de free jazz aqui e ali. O álbum conquistou quem lhe deu o devido tempo e carinho.
Fast forward para o momento actual e chega-nos The Seduction of Kansas, naquele que é visto sempre no mundo da música como o difícil segundo álbum, o que define se uma banda merece mais atenção ou se foi apenas fogo de vista. Pois bem, sendo muito sincero, ficámos na mesma. Em termos de letras, as mesmas parecem ser mais incisivas, mas ao mesmo tempo mais enigmáticas. A criação de personagens e elevada utilização de metáforas tanto nos faz reagir com um “brihante” como com um “do que raio está ela a falar”. Talvez o não ser americano e não estar totalmente a par dos acontecimentos e dos debates que por lá proliferam também não ajudem à nossa compreensão, mas no primeiro álbum a mensagem passou de uma forma mais directa.
Musicalmente, o disco pareceu-nos menos cativante. Não terá obviamente sido por falta de empenho, porque nos parece que Katie Alice Greer e seus comparsas são pessoas que ambicionam ir fazendo mais e melhor, e a energia que “emprestam” às suas músicas é contagiante, bastando para isso ver qualquer performance da banda ao vivo (nota de rodapé, gostaríamos de os ver ao vivo por Portugal em vez de bandas que vão actuar pela quinquagésima vez…). Mas quiçá uma procura de um estilo diferente ao que mostraram em Nothing Feels Natural. Ainda assim é de se ouvir e experimentar, sobretudo “Jesus’ Son”, “Not Perceived” e a que termina o álbum (e nos faz lembrar de calculadoras) “Texas Instruments”.
É indisfarçável vir ao de cima um sentimento de desilusão com este disco dos Priests. Andei pelas ruas e sites deste mundo a pregar o evangelho dos Priests com insistência após o seu excelente álbum de estreia e queria agora cimentar a prece, juntando ao Antigo Evangelho um Novo Evangelho portentoso e esclarecedor, mas o que é certo é que o Novo deixou a desejar. Assim não conseguimos mais fiéis, Cátia Alice!