EUDAEMONIA, o disco deste ano dos Humana Taranja, soou ainda melhor tocado na ZdB, numa noite cheia de amigos, suor, invasões de palco e crowd surf. É o que acontece quando criaturas de palco se veem no seu habitat natural.
Deu-se o milagre da multiplicação na Zé dos Bois (ZdB) na última quinta-feira quando Polivalente e Nicø começaram a tocar. Uma sala inicialmente vazia enche-se ao primeiro acorde distorcido da guitarra de Polivalente. A alma do punk estava no ar, era inútil resistir à cantiga de sirenes de revolta e à energia de uma guitarra com vida própria, um sintetizador modular e outras magias negras que compunham o conjunto. Ao fim da primeira música perguntava-me “para quê uma bateria quando se pode ter um sintetizador?”. Nicø criou as texturas e viagens necessárias para elevar a guitarra e a força imparável de Polivalente. O espaço e as estrelas estavam ali e Nicø era o nosso guia. Neste concerto, Polivalente apresentou o álbum que ainda não saiu e há de sair para o ano, fico à espera que este promete.


Já com suor na testa e casaco arrumado algures (deus sabe onde) fiz uma pausa para apanhar ar que este concerto, embora pequeno, rendeu para o cardio de uma semana. Felizmente, conhecendo Humana Taranja, o que me esperava não ia ficar aquém.
Tocaram os sinos para a missa. Polivalente, sozinho em palco, começa a poderosa intro de “LONGE”. Assim que a banda entra em palco as palmas ensurdecem. Neste tipo de situações, vem-nos à memória uma frase batida, mas há situações que as justificam: a energia era palpável. Seguiu-se “DIGO TUDO” e olhar de quem estava à minha volta diz tudo. Para matar saudades ouvimos “Zafira”, do álbum homónimo no ano passado, dedicada a Violeta Luz, vocalista dos Dead Club, que responde do público com um sentido “São lindos!”. Quando chega ao refrão, invade o palco e partilha o microfone com o Guilherme para cantarem juntos. Foi dada a mote para o resto da noite.

Um concerto cheio de convidados surpresa. A seguinte foi Evaya, que veio fazer a “CASA” com os Humana Taranja. Depois de uma inusitada utilização da máquina de fumo, o palco parecia uma estrada da serra da estrela num dia chuvoso onde não só andamos pelas nuvens como somos parte delas. Com este cenário, “CASA” éramos nós todos.
Grita-se pelo Barreiro, e bem. Toda a ZdB estava animada. Voltamos ao caminho da nostalgia com “Estrela Polar” que desencadeou o primeiro moche da noite. Para deixar a audiência descansar, Guilherme começa a solo a sentida e crua “BALA” que cola com “DE PÓ A NADA”, abrindo caminho para “BANHO QUENTE” onde a voz é partilhada com a Filipa(teclas e voz). A este ponto, estamos na reta final, e o banho quente era aquele que eu tinha de suor. Voltamos a meter a quinta com “GUERRA”.
Depois de mais uma pausa, entra Alex D’Alva em palco. Já todos sabiam o que se aproximava, aí vinha “DEIXA ARDER”. Com uma presença impressionante, Alex cria um momento de pausa para se queixar do microfone, como uma avó que se queixa dizendo que a comida não está nada de jeito. Assim que damos uma dentada no prato que é a performance do Alex, tudo arde de sabor. Alex puxa tanto pelo público que há pouca distinção entre o som que vem do palco e o que vem da plateia. Nada descreve o momento como a nota rápida que tirei no telemóvel: “O público passa-se”.

O concerto chega ao fim com “PODEM ENTRAR”. Momento lindo em que todos puderam entrar em palco, primeiro só os convidados e, depois, com um refrão repetido até à exaustão, todos o que quiseram entrar naquela invasão massiva de palco. Até o técnico de som foi lá fazer crowd surfing – há que admirar a velocidade e profissionalismo do Miguel, que vem da régie até ao palco e volta, ganhando a medalha de ouro nos 20 metros de “com licença, sai da frente”.

Se ainda estão indecisos sobre ouvir EUDAEMONIA, basta ir a um concerto deles, em qualquer lado, a qualquer hora. Um verdadeiro exemplo do bom tornado melhor. Humana Taranja são criaturas de palco, habitat natural onde são eles que mandam.
Fotografias por Rui Gato
Texto editado por Ana Lúcia Tiago































