São já dez os volumes destas colectâneas, que reviram colecções de discos para encontrar o lado escondido do rock stoner e psicadélico dos anos 60 e 70
Há cinco anos, a Riding Easy, editora de discos da Califórnia, começou uma aventura que, de repente, ganhou balanço e uma aura próprias. Começaram por editar Brown Acid, the First Trip, uma colectânea com 11 temas obscuros dos anos 60 e 70. Brown acid é uma expressão celebrizada em Woodstock, quando o speaker de serviço avisou as pessoas para o potencial perigo de um ácido castanho que andava a ser vendido no recinto, e que estava a provocar alucinações e bad trips a muitos consumidores. Em comum, os temas inicialmente escolhidos tinham alguns factores: era música inegavelmente eléctrica (e muito!), movida a guitarras fortes; provinha dessas duas décadas; incluia desde o rock psicadélico ao que chamavam de proto-metal e pre-stoner; e eram da autoria de bandas pouco conhecidas que, por uma razão ou por outra, tinham desaparecido sem deixar grande rasto.
A juntar à paixão por estas temas sujos, enérgicos e a soar a outlaw rock, a Riding Easy desenhou uma capa hoje icónica, cujo estilo foi sendo trabalhado nos capítulos seguintes desta saga. É que o sucesso do primeiro número convenceu esta pequena editora de que havia, de facto, um público para esta redescoberta, fazendo para este género o que investidas anteriores como as célebres colectâneas Nuggets ou Pebbles haviam feito em relação a outros primos musicais.
Por outro lado, a editora faz questão de lincenciar todas as músicas, uma tarefa muitas vezes hercúlea: praticamente todas as bandas estão há muito desaparecidas e contactá-las é um autêntico pesadelo. Mas, quando a série Brown Acid começou a ser falada, outras portas se começaram a abrir. Contas feitas, acaba de ser editado o décimo volume desta magnífica viagem, cujos discos podem ser conhecidos aqui.
Não faz grande sentido destacar um tomo em detrimento de quaisquer outros. Cada volume da série Brown Acid é uma trip por si mesma. Não será por aqui que vamos conhecer aquela banda que nos levará depois a procurar toda a sua discografia, até porque a esmagadora maioria delas não tem discos disponíveis ou não foram sequer além da edição de um ou outro single rapidamente esquecido.
O que a força deste conjunto nos dá é uma banda-sonora de um filme de Tarantino ou Robert Rodriguez, uma viagem noite fora, até ao sol nascer, por um deserto poeirento, ao volante de um rápido descapotável preto e lustroso. Acid rock, stoner antes de isso ter sido inventado, toques de psicadelismo, guitarras negras como o cabedal dos blusões, cheiro a gasóleo, distorção e um amadorismo pioneiro de quem vivia na garagem, sem pensar no êxito ou no fracasso de amanhã.
Entrem nesta viagem. Garantimos que não se vão arrepender!
