Sugiro a leitura deste texto acompanhada da audição deste álbum. Porque ouvir Patrick Watson é viajar através dos sentidos. Primeiro o tacto: não existe poro que não estremeça e que não coloque os pelos no ar. As emoções florescem e a mente é obrigada a desligar: entra em modo meditativo. Nos álbuns anteriores surgiria uma música pelo meio a interromper esta dormência porque o corpo queria dançar. Aqui não. Aqui não ficamos robotizados apesar do título ser convidativo. Ficamos meio dormentes mas estranhamente acordados. O corpo pede movimentos ondulados, simples e fantasiosos. Somos uma serpente que ondula ao som dele.
Há um quê de melancolicó-doce na voz deste senhor e também na musicalidade das suas canções. Há uma viagem, mas é um ir e ficar. É talvez uma viagem interior, de contemplação. A visão desloca o seu propósito e olhamos para nós. Desfocamos para nos focarmos. A audição, que tem o papel fundamental na música, é aqui uma via de acesso a algo mais. Mas não é racional, é como se os ouvidos estivessem ligados à pele e ao coração. Tudo estremece. Principalmente com a música “Hearts” onde o músico nos pede para correr, e nós corremos mas não com a mesma vontade de outras músicas de outros álbuns dele. Talvez seja necessário ouvir mais e melhor.
“In circles” é a música que se ouve quando se visita o site de Patrick Watson. Ouve-se um piano. Haverá instrumento mais emotivo do que o piano? Não considerando a voz… Voz essa que nos chama a atenção pelos murmúrios em “Turn into the noise”. A construção musical desta música é sublime, única e faz-nos pensar na enorme qualidade estética que Patrick Watson tem, para além de um talento imensurável.
Se o álbum for ouvido de seguida entramos neste estado de dormência que é de repente interrompido com “Places you will go”, cujo vídeo já está disponível. Tudo muda aqui. E é a última música. Fico com a sensação de ressaca vazia: falta aqui qualquer coisa. Talvez porque são apenas dez músicas, não sei. Mas posso sempre ouvir novamente do início…