Pela primeira vez o Altamont junta-se aos demais meios de comunicação social e dá a conhecer também o seu Top25. Sendo este um ano muito especial na vida do Altamont não podia deixar de agradecer a toda uma equipa que se formou este ano e que promete um 2014 ainda mais forte. Para este Top25 tivemos o seguinte critério: Cada um dos elementos do Altamont votou no seu Top10 individual sendo que as pontuações seguiam a lógica da Formula 1. O primeiro classificado tem 25 pontos, o segundo 18, tendo o terceiro 15 e assim sucessivamente, premiando, desta forma, os discos mais importantes a nível pessoal.
Foram 29 os tops individuais, todos eles demonstrando claramente o gosto pessoal de cada um. No final teria que haver 25 discos mais votados e os resultados podem ver já aqui em baixo:
25. Linda Martini – Turbo Lento
Turbo Lento, pois então. Se jogarmos um jogo de, sem aspirações a críticas musicais mais complexas e focadas na qualidade ou pertinência de arranjos e estruturas, o desafio de trazer para palavras e imagens a música que nos entra leitor de cd adentro (ou Spotify adentro, primeira plataforma com o disco em ‘streaming’) vai trazer algumas surpresas. Cáustico, corrosivo, muito denso e com muita letra que mexe cá dentro, Turbo Lento é menos imediato mas, não duvido, mais recompensador na sua profundidade. Vai buscar Chico Buarque (“Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente…”) onde antes já José Mário Branco e o ‘hip-hopper’ do metro de Lisboa haviam estado. Há faixas punk, muito punk (“Juárez”, “Tamborina Fera”) , há as voltas e vertigens e imprevisibilidade de “Sapatos Bravos”, há “Ratos”, por demais conhecida e elogiada por esta hora, “Tremor Essencial”, e muita e melhor letra – onde antes se cantava que “se o nosso amor é um combate/então que ganhe a melhor parte” hoje escava-se mais fundo: “No céu da tua boca é sempre dia/Vou sem escolta ver o sol”, de “Aparato”, canção e grito de revolta e conquista (“mexer, mexer, desarrumar!”)
Nada a apontar. Absolutamente nada. O terceiro álbum de Fuck Buttons, Slow Focus, em linha com os seus dois antecessores, Street Horrrsing e Tarot Sport, é simplesmente genial. Andrew Hung e Benjamin Power sobem a um pedestal divino para nos avisar que isto provavelmente não vai ficar por aqui. Slow Focus é mais uma obra de arte deste duo inglês, e cabe-nos a nos batalhar para que Hung e Power não se mantenham anónimos. Uma responsabilidade que acarreto com algum prazer. Ou muito mesmo.
23. Franz Ferdinand – Right Thoughts, Right Words, Right Action
Right Thoughts, Right Words, Right Action. Os Franz Ferdinand estão de regresso aos álbuns, quatro anos depois de terem lançado Tonight: Franz Ferdinand. E a espera voltou a valer a pena, com os escoceses a brindarem-nos com uma bela obra de rock dancável. A fórmula de sucesso usada pelos quatro rapazes de Glasgow é a habitual: canções muito bem escritas, guitarradas certeiras e a atitude “cool” de sempre. Quando tudo é tão bem feito para quê mudar? Com 11 anos de carreira, os Franz Ferdinand não mostram sinais de desgaste e continuam a envelhecer em grande estilo, na habitual boa onda e com letras divertidas e irónicas.
22. Laura Marling – Once I Was an Eagle
Tem 23 anos, mas este Once I Was An Eagle já é o seu quarto disco. É um disco relativamente despido. Guitarra acústica e voz na base de tudo, com esta bem à frente, a falar-nos ao ouvido. Mas sem sussurros, porque esta mulher é de armas, sabe o que quer e o que tem a dizer. Basta ouvir as três primeiras músicas deste disco (façam-no já, por favor), que se ligam como se fossem uma só. Letras com poesia a sério, sérias, bem feitas, de quem olha a vida de peito aberto, sofreu e fez sofrer, como toda a gente.
Hoje em dia, é necessário categorizar a música, e inseri-la na prateleira de um, ou vários estilos musicais. Mas a música dos Rhye descreve-se apenas com um adjectivo – Sensual! A sensualidade começa logo na capa do disco, e prossegue ao longo de cada canção. É música sedutora (Sade, onde estás?), carregada de líbido, elegante, mas sem confundir sensual com sexual. Os Rhye fazem música sofisticada, que vai buscar elementos de R&B, soul, às vezes quase disco, quase dance, quase smooth jazz… Umas dão vontade de acasalar, outras fazem abanar as ancas e os ombros numa dança contida, outras pedem-nos apenas para fechar os olhos e morder os lábios. Numas músicas, o estilo está mais bem definido, noutras, está tudo misturado, mas todas elas marcadas por um Groove e um balanço incríveis, por causa do baixo. Muitas vezes a batida e o ritmo das canções vêm do baixo, não da bateria. É no baixo que tudo começa, de forma lânguida, meticulosa, a pautar o andamento da canção. O resto vem depois, e é arrumado de forma bastante harmoniosa.
20. King Krule – 6 Feet Beneath the Moon
Num género quase novo de seu nome darkwave, Krule traz-nos uma mistura de indie rock com blues e eletrónica que é impossível de nos deixar indiferente. A toada melosa e sensual de tudo aquilo que cria ganha neste disco um poder massivo, mantendo uma linha estilística sólida ao longo de todas as 14 faixas originais, mas que nunca são engolidas pela sempre ameaçadora e aborrecida sombra da monotonia. Temos uma sonoridade que conjuga dedilhares de guitarra carinhosos, com composições digitais tão ou mais aconchegantes que a sua voz, a sua singular voz que, com um cerrado sotaque “very british”, transpira um sofrimento, uma melancolia incomparável. É de tal maneira rica a estrutura daquilo que produz que não fará cerimónia quando arrancar fãs de géneros tão diferentes como o Jazz, R&B, Blues, Rock ou, até mesmo, Hip-Hop.
19. John Grant – Pale Green Ghosts
Pale Green Ghosts é um belo monumento! As letras mostram-se perversas e sem rodeios, sexualizadas, diretas ao ponto de poderem inibir que as cantemos em voz alta, por exemplo. Mas como deixar de cantarolar (em casa, na rua, em todos os lados) versos como “But I am the greatest motherfucker / That you’re ever gonna meet”, por exemplo? Mas voltemos aos ghosts que povoam o segundo trabalho de John Grant, e celebremos o prazer irrequieto da mistura rítmica das suas canções! Celebremos também a voz de Grant, sempre tão marcante e poderosa, a parecer que não se quer impor, mas impondo-se impiedosamente. Celebremos, por fim, alguns sonoros desvarios feitos por sintetizadores que ganham vida subitamente, em algumas canções. Na verdade, quando bem ouvido, Pale Green Ghosts é mesmo um disco viciante, e nada mais há a fazer.