James Blake é um óvni. Faz música que ninguém faz, tem uma voz que mais ninguém tem e ainda não tem 25 anos, a idade que já toda a gente fez. Pode um disco de música electrónica ser orgânico e despido? Frontal? Fazer-nos festinhas no íntimo? Overgrown faz isso tudo. São 40 minutos que em semanas se transformaram neste que vos escreve em dezenas de horas de contemplação e estupefação perante uma obra de um músico que pode perfeitamente marcar um tempo e uma geração. Overgrown é inacreditável. Vanguardista, único, perfeitamente identificável e um objecto que, ame-se ou goste-se menos (caraças, é possível odiar isto?), já não se faz. E a vida, como a música, só tem piada quando nos deparamos com o que não sabíamos ser possível existir.
17. Daft Punk – Random Access Memories
Random Access Memories,lançado oito anos depois de Human After All faz-nos viajar aos 70’s, década marcada pelo disco-funk. Guy e Thomas quiseram inovar, provar que podem fazer algo diferente mas com magia. Por isso nesta viagem mágica e com o intuito de dar um toque mais humano ao disco, os Daft convidaram os seus ídolos, o mestre da Disco Music, Giorgio Moroder; o mentor dos Chic, Nile Rodgers; o cantor e compositor Paul Williams e outros excelentes músicos como Pharrell, Julian Casablancas dos Strokes e Panda Bear. R.A.M. foi gravado inteiramente em formato analógico nos míticos estúdios de gravação Eletric Lady em Nova Iorque onde Nile Rodgers dos Chic gravou o seu primeiro single em 1977, e também nos Capitol Studios em Los Angeles. O disco é para ir-se descobrindo após multiplas audições e a qualidade de som é irrepreensível. Viciante!
16. Jacco Gardner – Cabinet of Curiosities
Syd Barrett renasceu e trouxe consigo a aura de Pet Sounds e Sgt Pepper. Este holandês parece que veio de 1967 num Delorean e lá dentro trouxe todas as cores do arco-íris e mais umas lantejoulas e uns selos que não aconselho serem lambidos por toda a gente… Da inocência imaginativa de Syd Barrett, Jacco alia o maravilhoso mundo do pop barroco que provavelmente fez corar Brian Wilson. Uma das surpresas de 2013.
o mínimo que se pode dizer deste artista multifacetado é que não desilude com o seu primeiro álbum. A canção que dá nome ao disco abre as “hostilidades” de forma magnífica e, goste-se ou não, isto soa a novo e diferente. Segue-se a magnífica “Run Boy Run”, um dos dois singles já lançados, com um som apoteótico e cujo vídeo deixa qualquer um de boca aberta. Em The Golden Age tudo é pensado a pormenor, com um cuidado estético impressionante e numa união clara entre música e cinema, ou não tenha ele muita experiência em ambas as artes.
14. Nick Cave & The Bad Seeds – Push the Sky Away
Push The Sky Away, o 15º trabalho de Nick Cave & The Bad Seeds, não é um álbum qualquer. Nick Cave, aliás, tem 30 anos de rock e uma série de projectos e a experiência nota-se em cada momento das nove faixas que nos oferece neste trabalho. Lento, sim, mas que merece ser ouvido com toda a atenção. O piano, os violinos, a voz profunda de Cave e uma excelente composição, em que nada foi deixado ao acaso, ajudam ao efeito quase místico. Bem composto, bem produzido, com canções complexas e emotivas, de prender a respiração, Nick Cave coloca-nos exactamente onde quer e quando quer. Este “Push The Sky Away” merece ser ouvido com toda a atenção, várias vezes, aproveitando todos os pequenos pormenores de cada uma das músicas.
13. The National – Trouble Will Find Me
Em Trouble Will Find Me está lá (quase) tudo: os violinos que se dialogam com o piano, as guitarras, os coros, os crescendo e as letras em canções como “Fireproof” ou “I Need My Girl”. O “quase” é que não há faixas a puxar pelo lado mais rock como em Alligator. “Sea of Love” apenas se aproxima, sendo mais endiabrada que rock (“if I stay here trouble will find me”). “Humilliation”, apesar da letra, já tem uma sonoridade mais leve e “Pink Rabbits” é quase alegre (na medida que é possível). Os The National encontraram o seu espaço neste misto melancólico e etéreo e movem-se confortavelmente entre os lamentos de Matt Berninger e os instrumentos que ganham intensidade à medida que a música avança. Não queremos que mudem. Embora faça falta alguma intensidade, ou energia, era precisamente esta melancolia esperançosa, que se esperava. E quando as 13 músicas chegam ao fim, recomeçamos.
Kanye West voltou a baralhar o jogo. Já fez Hip Hop gourmet, já falhou com estrondo, já editou um disco perfeito e agora lançou um desafio aos mortais. Em Yeezus, a pergunta é simples: “Acompanham?” Se os segundos iniciais de “On Sight”, industriais e a apontar às pistas de dança mais aceleradas, fazem suspeitar que não estamos a entrar num disco normal, “I’m in It” confirma o peso de Yeezus, enquanto “Hold my Liquor” e “Guilt Trip” mostram que os Deuses também aprendem – estão dominados os efeitos que condenaram 808 & Heartbreak ao esquecimento. Logo depois, a declaração – de batida forte, grave como a declaração, “I Am a God”. Yeezus – qualquer semelhança entre a sonoridade do título e a pronúncia americana de ‘Jesus’ não é, arrisco, coincidência – nem é o melhor disco de Kanye West. É só mais um grande, grande, disco. Agora, nós mortais, entretemo-nos a cataloga-lo. Kanye, como os deuses, já seguiu caminho. Alguém acompanha?
11. Savages – Silence Yourself
Chegamos então a 2013, ano de lançamento do álbum de estreia da banda, este “Silence Yourself” para voltarmos ao início dos anos 80, quando os Joy Division, Siouxsie & The Banshees se lançavam nos escaparates. O ritmo aguerrido de sangue a correr nas veias, a voz de Jehnny Beth, o baixo omnipresente, todos os ingredientes estão lá. o arranque guitarra – bateria – baixo cada um à vez em “She Will”. E a voz a chegar depois, a compôr o ramalhete e a deixar-nos com uma grande malha. Aquela aceleração no final de “I Am Here” e a velocidade alucinante de “City’s Full”. Uma “Husbands” que nos conquista e se entranha, de ouvirmos até à exaustão (música que serviu de primeira amostra da banda ainda em 2012). E não é comum deixar o início para o fim, mas desta vez assim foi. Os primeiros segundos do álbum, com “Shut Up!” deixam-nos irrequietos já que quase não se ouve nada. Voltamos ao início, colocamos mais alto e aí sim, uma voz que fala e questiona alguém um diálogo que foi retirado de um filme de John Cassavetes. Depois (e desta vez trocam a ordem) baixo, depois a guitarra e a bateria. E a voz, a voz, intensa, ecoando em todos os cantos do nosso cérebro à medida que os ouvidos deixam entrar.